O Caminho Pneumático de Scheleiermacher
INTRODUÇÃO
O teólogo mais influente do século XIX, freqüentemente chamado pai da teologia protestante liberal ou da teologia da experiência religiosa.
O desenvolvimento intelectual de Scheleiermacher depois de 1796 foi influenciado profundamente pela sua associação, em Berlim, com um movimento romântico que então florescia, e que se revoltaram contra as normas clássicas na literatura e na arte, e contra o racionalismo do iluminismo. A ênfase de Scheleiermacher dava a imanência de Deus, a sua presença no mundo e a experiência subjetiva de Deus vivida pelo crente, em lugar da transcendência de Deus e da sua realidade objetiva, levou os tradicionalistas a acusá-lo repetidas vezes de panteísmo.
Nascido em 1768 e falecido em 1834, ele foi um filósofo e teólogo alemão que exerceu grande influência. Nasceu em Breslau. Educou-se em Halle. Foi pregador em Berlim. Foi professor de teologia e filosofia em Halle. Foi ministro da Igreja da Trindade, em Berlim. Traduziu as obras de Platão para o alemão. Foi autor de muitos livros, além de ter sido renomado conferencista. Fez progredir a teoria do conhecimento, o raciocínio teológico, a erudição platônica e a teologia sistemática. Sofreu influência de Kant e Fichte, mas sem tornar-se um idealista subjetivo.
Scheleiermacher rompeu com a teologia reformada agostiniana e Paulina do pecado original ao negar uma queda histórica. Ao invés de ser um evento real, a queda em Gênesis é uma história que ilustra como os atos individuais do pecado resultam da natureza pecaminosa em todas as pessoas. Negou não somente que o pecado original é uma corrupção herdada, como também que Adão tivesse sido criado justo e que, pelo seu pecado, tivesse mergulhado a raça humana no mesmo pecado. A natureza humana sempre tem sido uma mistura da justiça original e do pecado original.
A superioridade do cristianismo às outras religiões acha-se na provisão da redenção mediante Jesus Cristo.
Scheleiermacher introduziu a idéia da religião como uma condição do coração, cuja essência é o sentimento. Esta idéia tornou a doutrina cristã independente dos sistemas filosóficos, e a fé, uma questão da experiência individual de dependência de Deus. Jesus foi à realização perfeita do ideal de uma nova vida de comunhão espiritual com Deus, e esta possibilidade também existia para aqueles que foram trazidos para a comunhão com ele na igreja.
PRINCIPAIS IDÉIAS DE SCHLEIERMACHER
1. Para ele, os sentimentos são um aspecto muito importante da religião, e o sentimento principal aí é o de absoluta independência. O finito depende do infinito. Ele evitava definir religião em termos de razão e de moralidade, e preferia apresentar suas idéias sobre os sentimentos.
2. O finito faz parte do infinito e depende do mesmo de modo absoluto. O infinito é a totalidade de todas as coisas, aos moldes de Spinoza. Schleiermacher identificava Deus com o mundo, considerado como um todo. Apesar desse panteísmo, em seus escritos teológicos posteriores, ele se identificou com Agostinho e com Calvino.
3. Proprium. Cada indivíduo deve encontrar e desenvolver sua diferenciação interior, seu lugar particular na natureza e na história, ou seja, a sua finitude especial dentro do infinito. A isso ele chamava de proprium, algo similar à função, nos escritos de Aristóteles, ou seja, o ideal de cada indivíduo, mediante a educação e evolução, tornando-se uma pessoa sem igual, com uma função ímpar, para o bem da coletividade. O desenvolvimento do proprium por ouvir a um indivíduo assume identidade e a sua unidade de vida. Os indivíduos assim evoluídos e cultivados seriam aqueles que desenvolvem a ética, a sociedade e a religião.
4. Sobre os milagres, ele asseverava que todas as causas são naturais, mas que Deus pode trazer à tona conjuntos incomuns de causas, produzindo os eventos extraordinários que chamamos de milagres.
5. A religião seria uma espécie de atividade natural do homem, o qual, por meio da intuição, aprende algo da essência da existência. O lado prático da religião incluiria uma reação emocional (dos sentimentos) a seus discernimentos. Ele dava grande valor a essa reação emocional. Seus sentimentos incluíam o princípio do amor. Nos sentimentos tomamos conhecimento da realidade de Deus; nos sentimentos simpatizamos com nossos semelhantes.
6. As doutrinas sempre dependem da experiência religiosa, e nunca a experiência da crença. Isso posto, a teologia torna-se, em um importante sentido, uma aventura empírica e uma ciência especialíssima. Apesar das declarações bíblicas e filosóficas terem o seu devido lugar, a religião, como uma ciência experimental, dispõe de seus próprios informes para efeito de elaboração, não podendo assim ser restringido aos raciocínios filosóficos, e nem ao emprego de textos de prova e extraídos das escrituras como ponto de partida, mas tão somente como confirmação e orientação. Dessa maneira, não precisamos limitar-nos a rígida ortodoxia, com suas formulações exatas e suas limitações, que só serve para pressionar os homens.
7. A experiência religiosa é uma atividade mental ímpar e autônoma, que emana desde o fundo de nosso ser.
8. Sobre a autoridade. A Autoridade final, na religião, não são as escrituras (conforme diz o protestantismo ortodoxo); também não é a razão natural (segundo preceituam algumas filosofias); e nem alguma combinação das duas coisas, paralelamente às tradições (conforme diz o catolicismo romano). Antes, é o sentimento religioso intuitivo, combinado com a experiência religiosa dali derivadas. As doutrinas cristãs são exposições dos afetos religiosas cristãos, transmitidos em forma de declarações. Naturalmente, os estudiosos liberais protestantes tiraram proveito desse tipo de pensamento. Por essa razão.
9. Sobre a ética. A maneira como um cristão tem comunhão com Deus, através de Cristo, influencia suas ações. O alvo da ética é a obtenção da unidade e da paz entre motivos e ideais aparentemente conflitantes. Ele de apreciava a aplicação da mera lei, e antecipou os situacionalistas modernos. Antes, exaltava o amor como maior de todos os princípios éticos. A lei o asseverava, não consegue varar para além dos atos, até os motivos. Porém, o amor atinge o âmago de todas as coisas, capacitando-nos a agir de modo digno, com base em corretos motivos. Sua ênfase sobre o amor era tal que ele recusava-se a chamar de leis os dois grandes mandamentos sobre o amor (Mateus 22:36-40).
O CAMINHO PNEUMÁTICO
Para Schleiermacher o sobrenaturalismo estava errado. Coisas como intervenções milagrosas de Deus, inspirações especiais e revelações, jazem abaixo do nível da verdadeira experiência religiosa. Esses eventos são objetivos e podem ser constatados de fora como existindo ou não, num debate, mas a religião trata do imediato, da relação imediata com o divino. Esses eventos exteriores e objetivos nada acrescentam a experiência fundamental da dependência incondicional e da divinação de Deus no universo.
Conseqüentemente, são também desnecessárias às autoridades que garantem tais interferências sobrenaturais. Acaba-se com qualquer autoridade religiosa, bíblica ou eclesiástica, encarregada de fomentar a tais interferências. Assim, a ciência moderna se liberta das interferências religiosas. Desmorona completamente a pretensão sobre o naturalismo, sobre a suspensão das leis da natureza para realização de milagres.
Schleiermacher reagiu contra sacerdotes e autoridades; dizendo que não eram necessários, uma vez que todas as pessoas eram chamadas ao sacerdócio e podiam receber o Espírito Santo. A partir desse ponto de vista pode-se entender a resistência da igreja face aos movimentos espiritualistas, em face de movimentos em que o indivíduo se encontra com Deus e imediatamente é tomado pelo Espírito Santo. Vocês podem muito bem entender as razões pelas quais o Espírito Santo, sempre que aparece, é imediatamente submetido à letra da Bíblia. Para os reformadores, que originalmente lutaram contra a igreja romana no poder do Espírito Santo, logo enfrentaram grandes dificuldades na sua luta com outros movimentos espiritualistas ao do período da reforma.
A verdadeira definição de sentimento pode ser vista na oração fervorosa ou numa reunião de culto em nossa comunidade, ou ainda ao ouvirmos a palavra profética. O elemento emocional se faz presente nesses momentos. Tomemos um exemplo do mundo das artes. Somos profundamente tocados por um quadro que contemplamos ao visitar uma determinada galeria de arte; somos tomados por ele; vivemos nele e nossas emoções são fortemente despertadas. Mas se alguém nos disser que é apenas uma experiência estética, diríamos que experiência estética é mais do que essa emoção. Se fosse apenas emoção, não teria o caráter definido que nos é dado por este ou aquele quadro particular. Reconhecemos, no momento em que somos emocionalmente tocados.
Eu diria a mesma coisa a respeito da música. Muitas vezes se diz que a música se situa completamente nos domínios do sentimento. É verdade. Mas se trata de um tipo muito especial de sentimento relacionada com figuras de formas musicais particulares que fazem da música uma obra de arte. Essa obra nos revela certa dimensão do ser, incluindo nosso próprio ser, que não seria revelada se não se produzisse esse impacto musical em nós. Assim, podemos dizer que embora o elemento emocional esteja sempre presente e nossas experiências, não podemos igualmente dizer que essas experiências se reduzam a emoções.
Tomemos a experiência do amor. Não se pode dizer que o amor seja emoção. O amor inclui emoção, por certo, mas não é puramente emoção. Essa é, isso sim, uma reunião, de entidades separadas e que se pertencem eternamente. Essa experiência não pode ser identificada com a reação pessoal que chamamos sentimento.
Se tudo não passasse de mero sentimento, teríamos certo prazer estético e sem qualquer envolvimento pessoal, e nada mais.
Não há espírito que não seja ao mesmo tempo portador da pessoa. Mas o conceito de espiritualidade é mais adequado porque acaba com o perigo da distorção objetivada da idéia de Deus.
Deus é a única substância indivisível. O Filho e o Espírito são simplesmente formas de revelação desta substância. O Espírito Santo é identificado com o espírito público que aviva a comunhão dos crentes.
Os discursos sobre religião (1799) de Scheleiermacher tiveram tanto êxito que quando surgiu a terceira edição (1821), ele escreveu na introdução que em vez de ainda ter de se defender dos detratores da religião, iluministas, ele precisava agora atacar os fanáticos ortodoxos que em nome de sua defesa do cristianismo, retornava a tradição ortodoxa pré-iluminista, procurando solapar todo o desenvolvimento em que se havia baseado para elaborar seu livro.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Juntamente com o Romantismo, Scheleiermacher procura valorizar e justificar a religião, desprezada e expulsa da vida do Espírito pelo racionalismo iluminista.
Para Schleiermacher a teologia é o conhecimento positivo de uma realidade histórica. Schleiermacher afirmava que a teologia cristã era a totalidade das regras práticas e dos conceitos teóricos sem os quais o governo da igreja não seria possível.
Afirmava, entretanto, que a religião era o sentimento da dependência incondicional, a consciência imediata do incondicional, a relação existencial imediata anterior ao ato da reflexão, e a percepção imediata do incondicional na consciência.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
PAUL TILLICH, Perspectivas da Teologia Protestante nos Séculos XIX e XX, Editora Aste.
R. N. Champlin, J. M. Bentes, Enciclopédia de Teologia e Filosofia da Bíblia, Editora Candeia.
BENGT HAGGLUND, História da Teologia, Editora Concórdia.
http://www.filosofos.com.br/
WILL DURANT, A História da Filosofia, Editora Nova Cultural.
O teólogo mais influente do século XIX, freqüentemente chamado pai da teologia protestante liberal ou da teologia da experiência religiosa.
O desenvolvimento intelectual de Scheleiermacher depois de 1796 foi influenciado profundamente pela sua associação, em Berlim, com um movimento romântico que então florescia, e que se revoltaram contra as normas clássicas na literatura e na arte, e contra o racionalismo do iluminismo. A ênfase de Scheleiermacher dava a imanência de Deus, a sua presença no mundo e a experiência subjetiva de Deus vivida pelo crente, em lugar da transcendência de Deus e da sua realidade objetiva, levou os tradicionalistas a acusá-lo repetidas vezes de panteísmo.
Nascido em 1768 e falecido em 1834, ele foi um filósofo e teólogo alemão que exerceu grande influência. Nasceu em Breslau. Educou-se em Halle. Foi pregador em Berlim. Foi professor de teologia e filosofia em Halle. Foi ministro da Igreja da Trindade, em Berlim. Traduziu as obras de Platão para o alemão. Foi autor de muitos livros, além de ter sido renomado conferencista. Fez progredir a teoria do conhecimento, o raciocínio teológico, a erudição platônica e a teologia sistemática. Sofreu influência de Kant e Fichte, mas sem tornar-se um idealista subjetivo.
Scheleiermacher rompeu com a teologia reformada agostiniana e Paulina do pecado original ao negar uma queda histórica. Ao invés de ser um evento real, a queda em Gênesis é uma história que ilustra como os atos individuais do pecado resultam da natureza pecaminosa em todas as pessoas. Negou não somente que o pecado original é uma corrupção herdada, como também que Adão tivesse sido criado justo e que, pelo seu pecado, tivesse mergulhado a raça humana no mesmo pecado. A natureza humana sempre tem sido uma mistura da justiça original e do pecado original.
A superioridade do cristianismo às outras religiões acha-se na provisão da redenção mediante Jesus Cristo.
Scheleiermacher introduziu a idéia da religião como uma condição do coração, cuja essência é o sentimento. Esta idéia tornou a doutrina cristã independente dos sistemas filosóficos, e a fé, uma questão da experiência individual de dependência de Deus. Jesus foi à realização perfeita do ideal de uma nova vida de comunhão espiritual com Deus, e esta possibilidade também existia para aqueles que foram trazidos para a comunhão com ele na igreja.
PRINCIPAIS IDÉIAS DE SCHLEIERMACHER
1. Para ele, os sentimentos são um aspecto muito importante da religião, e o sentimento principal aí é o de absoluta independência. O finito depende do infinito. Ele evitava definir religião em termos de razão e de moralidade, e preferia apresentar suas idéias sobre os sentimentos.
2. O finito faz parte do infinito e depende do mesmo de modo absoluto. O infinito é a totalidade de todas as coisas, aos moldes de Spinoza. Schleiermacher identificava Deus com o mundo, considerado como um todo. Apesar desse panteísmo, em seus escritos teológicos posteriores, ele se identificou com Agostinho e com Calvino.
3. Proprium. Cada indivíduo deve encontrar e desenvolver sua diferenciação interior, seu lugar particular na natureza e na história, ou seja, a sua finitude especial dentro do infinito. A isso ele chamava de proprium, algo similar à função, nos escritos de Aristóteles, ou seja, o ideal de cada indivíduo, mediante a educação e evolução, tornando-se uma pessoa sem igual, com uma função ímpar, para o bem da coletividade. O desenvolvimento do proprium por ouvir a um indivíduo assume identidade e a sua unidade de vida. Os indivíduos assim evoluídos e cultivados seriam aqueles que desenvolvem a ética, a sociedade e a religião.
4. Sobre os milagres, ele asseverava que todas as causas são naturais, mas que Deus pode trazer à tona conjuntos incomuns de causas, produzindo os eventos extraordinários que chamamos de milagres.
5. A religião seria uma espécie de atividade natural do homem, o qual, por meio da intuição, aprende algo da essência da existência. O lado prático da religião incluiria uma reação emocional (dos sentimentos) a seus discernimentos. Ele dava grande valor a essa reação emocional. Seus sentimentos incluíam o princípio do amor. Nos sentimentos tomamos conhecimento da realidade de Deus; nos sentimentos simpatizamos com nossos semelhantes.
6. As doutrinas sempre dependem da experiência religiosa, e nunca a experiência da crença. Isso posto, a teologia torna-se, em um importante sentido, uma aventura empírica e uma ciência especialíssima. Apesar das declarações bíblicas e filosóficas terem o seu devido lugar, a religião, como uma ciência experimental, dispõe de seus próprios informes para efeito de elaboração, não podendo assim ser restringido aos raciocínios filosóficos, e nem ao emprego de textos de prova e extraídos das escrituras como ponto de partida, mas tão somente como confirmação e orientação. Dessa maneira, não precisamos limitar-nos a rígida ortodoxia, com suas formulações exatas e suas limitações, que só serve para pressionar os homens.
7. A experiência religiosa é uma atividade mental ímpar e autônoma, que emana desde o fundo de nosso ser.
8. Sobre a autoridade. A Autoridade final, na religião, não são as escrituras (conforme diz o protestantismo ortodoxo); também não é a razão natural (segundo preceituam algumas filosofias); e nem alguma combinação das duas coisas, paralelamente às tradições (conforme diz o catolicismo romano). Antes, é o sentimento religioso intuitivo, combinado com a experiência religiosa dali derivadas. As doutrinas cristãs são exposições dos afetos religiosas cristãos, transmitidos em forma de declarações. Naturalmente, os estudiosos liberais protestantes tiraram proveito desse tipo de pensamento. Por essa razão.
9. Sobre a ética. A maneira como um cristão tem comunhão com Deus, através de Cristo, influencia suas ações. O alvo da ética é a obtenção da unidade e da paz entre motivos e ideais aparentemente conflitantes. Ele de apreciava a aplicação da mera lei, e antecipou os situacionalistas modernos. Antes, exaltava o amor como maior de todos os princípios éticos. A lei o asseverava, não consegue varar para além dos atos, até os motivos. Porém, o amor atinge o âmago de todas as coisas, capacitando-nos a agir de modo digno, com base em corretos motivos. Sua ênfase sobre o amor era tal que ele recusava-se a chamar de leis os dois grandes mandamentos sobre o amor (Mateus 22:36-40).
O CAMINHO PNEUMÁTICO
Para Schleiermacher o sobrenaturalismo estava errado. Coisas como intervenções milagrosas de Deus, inspirações especiais e revelações, jazem abaixo do nível da verdadeira experiência religiosa. Esses eventos são objetivos e podem ser constatados de fora como existindo ou não, num debate, mas a religião trata do imediato, da relação imediata com o divino. Esses eventos exteriores e objetivos nada acrescentam a experiência fundamental da dependência incondicional e da divinação de Deus no universo.
Conseqüentemente, são também desnecessárias às autoridades que garantem tais interferências sobrenaturais. Acaba-se com qualquer autoridade religiosa, bíblica ou eclesiástica, encarregada de fomentar a tais interferências. Assim, a ciência moderna se liberta das interferências religiosas. Desmorona completamente a pretensão sobre o naturalismo, sobre a suspensão das leis da natureza para realização de milagres.
Schleiermacher reagiu contra sacerdotes e autoridades; dizendo que não eram necessários, uma vez que todas as pessoas eram chamadas ao sacerdócio e podiam receber o Espírito Santo. A partir desse ponto de vista pode-se entender a resistência da igreja face aos movimentos espiritualistas, em face de movimentos em que o indivíduo se encontra com Deus e imediatamente é tomado pelo Espírito Santo. Vocês podem muito bem entender as razões pelas quais o Espírito Santo, sempre que aparece, é imediatamente submetido à letra da Bíblia. Para os reformadores, que originalmente lutaram contra a igreja romana no poder do Espírito Santo, logo enfrentaram grandes dificuldades na sua luta com outros movimentos espiritualistas ao do período da reforma.
A verdadeira definição de sentimento pode ser vista na oração fervorosa ou numa reunião de culto em nossa comunidade, ou ainda ao ouvirmos a palavra profética. O elemento emocional se faz presente nesses momentos. Tomemos um exemplo do mundo das artes. Somos profundamente tocados por um quadro que contemplamos ao visitar uma determinada galeria de arte; somos tomados por ele; vivemos nele e nossas emoções são fortemente despertadas. Mas se alguém nos disser que é apenas uma experiência estética, diríamos que experiência estética é mais do que essa emoção. Se fosse apenas emoção, não teria o caráter definido que nos é dado por este ou aquele quadro particular. Reconhecemos, no momento em que somos emocionalmente tocados.
Eu diria a mesma coisa a respeito da música. Muitas vezes se diz que a música se situa completamente nos domínios do sentimento. É verdade. Mas se trata de um tipo muito especial de sentimento relacionada com figuras de formas musicais particulares que fazem da música uma obra de arte. Essa obra nos revela certa dimensão do ser, incluindo nosso próprio ser, que não seria revelada se não se produzisse esse impacto musical em nós. Assim, podemos dizer que embora o elemento emocional esteja sempre presente e nossas experiências, não podemos igualmente dizer que essas experiências se reduzam a emoções.
Tomemos a experiência do amor. Não se pode dizer que o amor seja emoção. O amor inclui emoção, por certo, mas não é puramente emoção. Essa é, isso sim, uma reunião, de entidades separadas e que se pertencem eternamente. Essa experiência não pode ser identificada com a reação pessoal que chamamos sentimento.
Se tudo não passasse de mero sentimento, teríamos certo prazer estético e sem qualquer envolvimento pessoal, e nada mais.
Não há espírito que não seja ao mesmo tempo portador da pessoa. Mas o conceito de espiritualidade é mais adequado porque acaba com o perigo da distorção objetivada da idéia de Deus.
Deus é a única substância indivisível. O Filho e o Espírito são simplesmente formas de revelação desta substância. O Espírito Santo é identificado com o espírito público que aviva a comunhão dos crentes.
Os discursos sobre religião (1799) de Scheleiermacher tiveram tanto êxito que quando surgiu a terceira edição (1821), ele escreveu na introdução que em vez de ainda ter de se defender dos detratores da religião, iluministas, ele precisava agora atacar os fanáticos ortodoxos que em nome de sua defesa do cristianismo, retornava a tradição ortodoxa pré-iluminista, procurando solapar todo o desenvolvimento em que se havia baseado para elaborar seu livro.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Juntamente com o Romantismo, Scheleiermacher procura valorizar e justificar a religião, desprezada e expulsa da vida do Espírito pelo racionalismo iluminista.
Para Schleiermacher a teologia é o conhecimento positivo de uma realidade histórica. Schleiermacher afirmava que a teologia cristã era a totalidade das regras práticas e dos conceitos teóricos sem os quais o governo da igreja não seria possível.
Afirmava, entretanto, que a religião era o sentimento da dependência incondicional, a consciência imediata do incondicional, a relação existencial imediata anterior ao ato da reflexão, e a percepção imediata do incondicional na consciência.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
PAUL TILLICH, Perspectivas da Teologia Protestante nos Séculos XIX e XX, Editora Aste.
R. N. Champlin, J. M. Bentes, Enciclopédia de Teologia e Filosofia da Bíblia, Editora Candeia.
BENGT HAGGLUND, História da Teologia, Editora Concórdia.
http://www.filosofos.com.br/
WILL DURANT, A História da Filosofia, Editora Nova Cultural.