O Anticristo sempre foi tema de muitas especulações, não apenas nos nossos dias, mas até mesmo nos primeiros séculos depois de Cristo. Perguntas como “Quando o Anticristo se manifestará?” ou “Quem será o Anticristo?” não faltam entre os cristãos.
O Anticristo já foi tema de filmes, livros e peças teatrais, mas afinal, o que realmente a Bíblia diz sobre o Anticristo? Vejamos nesse texto alguns pontos fundamentais que a Bíblia nos esclarece sobre essa figura tão especulada.
O que significa a palavra “Anticristo”?
O termo “Anticristo” significa “contra Cristo”, “rival de Cristo” ou “no lugar, substituto de Cristo”. Logo, pode ser considerado um tipo de anticristo qualquer um que se opõe a Cristo ou supõe estar em seu lugar.
O que a Bíblia diz sobre o Anticristo?
Tanto no Antigo Testamento quanto no Novo Testamento, a Bíblia descreve alguns aspectos do Anticristo. Antes de analisarmos algumas dessas referências é preciso considerar uma regra da hermenêutica que geralmente é conhecida como “Profecia de Dupla Referência”, onde uma profecia se cumpre em dois momentos distintos da história, ou seja, o profeta profetizou, a profecia se cumpriu primariamente, mas seu cumprimento não se esgotou, restando um cumprimento um segundo cumprimento. Em alguns casos, esse tipo de profecia pode apresentar até mesmo uma tripla referência ou aplicação.
Um exemplo desse tipo de profecia é a profecia de Daniel (cap. 7) citada por Jesus em seu Sermão Escatológico (Mt 24; Mc 13; Lc 21), onde ele deixa muito claro a aplicação futura de uma profecia que, até então, os judeus acreditavam já ter se cumprido completamente.
O Anticristo no livro de Daniel
O profeta Daniel teve uma visão descrita no capítulo 7 de seu livro, onde ele vê quatro animais que subiam do mar (leão, urso, leopardo e outro terrível e indescritível), que representam quatro reinos (Dn 7:1-18). A visão prossegue e nos versículos seguintes Daniel fala sobre um pequeno chifre que surge entre os dez chifres do quarto animal, e nesse pequeno chifre havia olhos como os de homem, e uma boca que falava grandes coisas (Dn 7:8).
A partir do versículo 20, temos uma descrição detalhada desse chifre, condizente com a atuação do Anticristo:
Eu olhava, e eis que este chifre fazia guerra contra os santos, e prevaleceu contra eles.
Até que veio o ancião de dias, e fez justiça aos santos do Altíssimo; e chegou o tempo em que os santos possuíram o reino.
Disse assim: O quarto animal será o quarto reino na terra, o qual será diferente de todos os reinos; e devorará toda a terra, e a pisará aos pés, e a fará em pedaços.
E, quanto aos dez chifres, daquele mesmo reino se levantarão dez reis; e depois deles se levantará outro, o qual será diferente dos primeiros, e abaterá a três reis.
E proferirá palavras contra o Altíssimo, e destruirá os santos do Altíssimo, e cuidará em mudar os tempos e a lei; e eles serão entregues na sua mão, por um tempo, e tempos, e a metade de um tempo.
(Daniel 7:21-25)
É possível que essa profecia tenha múltipla realização, porém a maioria dos estudiosos concorda que esse pequeno chifre simboliza o aparecimento do Anticristo, sendo então, a primeira referência escriturística a este personagem escatológico.
Também em Daniel 9:27; 11:31 e 12:11, em passagens onde claramente é aplicado o principio da profecia de múltipla referência, é provavelmente a pessoa do Anticristo que está sendo citada, onde sua atuação no período final da presente era foi prefigurada pela atuação do rei da dinastia Selêucida Antíoco IV Epifânio por volta de 167 a.C., e depois, no cerco de Jerusalém em 70 d.C, pelo Império Romano.
O Anticristo no Sermão Escatológico de Jesus
Usando como base o texto de Mateus 24, vemos que Jesus primeiramente aplica ao Imperador Tito que destruiu Jerusalém e o Templo no ano 70 d.C, a figura de um tipo de anticristo (vers. 15-20). Porém, nos versículos seguintes (vers. 21-22), o pano de fundo da profecia de Jesus deixa de ser apenas a destruição de Jerusalém, e passa também a se referir a um período futuro, a qual haverá uma tribulação nunca vista.
Porque haverá então grande aflição, como nunca houve desde o princípio do mundo até agora, nem tampouco há de haver.
E, se aqueles dias não fossem abreviados, nenhuma carne se salvaria; mas por causa dos escolhidos serão abreviados aqueles dias.
(Mateus 24:21,22)
Depois, no próprio Novo Testamento, somos advertidos que esse momento será o período da manifestação do Anticristo escatológico.
O Anticristo nas Epístolas de João
Para o apóstolo João, o espírito de anticristo sempre esteve presente em pessoas, sistemas e governos que se levantam contra Cristo, ou seja, são muitos anticristos que precedem o Anticristo final. Isso fica claro em seus textos, onde ora ele usa o termo em um sentido impessoal e ora ele usa em sentido pessoal. Vejamos estas aplicações nos textos abaixo:
Quem é o mentiroso, senão aquele que nega que Jesus é o Cristo? É o anticristo esse mesmo que nega o Pai e o Filho.
(1 João 2:22)Nisto conhecereis o Espírito de Deus: Todo o espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus;
E todo o espírito que não confessa que Jesus Cristo veio em carne não é de Deus; mas este é o espírito do anticristo, do qual já ouvistes que há de vir, e eis que já agora está no mundo.
(1 João 4:2,3)Porque já muitos enganadores entraram no mundo, os quais não confessam que Jesus Cristo veio em carne. Este tal é o enganador e o anticristo.
(2 João 1:7)
O Anticristo nas Epístolas de Paulo
O apóstolo Paulo escrevendo aos Tessalonicenses, faz uma descrição detalhada sobre o momento em que o Anticristo se manifestará, bem como suas principais características:
Ora, irmãos, rogamo-vos, pela vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, e pela nossa reunião com ele,
Que não vos movais facilmente do vosso entendimento, nem vos perturbeis, quer por espírito, quer por palavra, quer por epístola, como de nós, como se o dia de Cristo estivesse já perto.
Ninguém de maneira alguma vos engane; porque não será assim sem que antes venha a apostasia, e se manifeste o homem do pecado, o filho da perdição,
O qual se opõe, e se levanta contra tudo o que se chama Deus, ou se adora; de sorte que se assentará, como Deus, no templo de Deus, querendo parecer Deus.
Não vos lembrais de que estas coisas vos dizia quando ainda estava convosco?
E agora vós sabeis o que o detém, para que a seu próprio tempo seja manifestado.
Porque já o mistério da injustiça opera; somente há um que agora o retém até que do meio seja tirado;
E então será revelado o iníquo, a quem o Senhor desfará pelo assopro da sua boca, e aniquilará pelo esplendor da sua vinda;
A esse cuja vinda é segundo a eficácia de Satanás, com todo o poder, e sinais e prodígios de mentira,
E com todo o engano da injustiça para os que perecem, porque não receberam o amor da verdade para se salvarem.
E por isso Deus lhes enviará a operação do erro, para que creiam a mentira;
Para que sejam julgados todos os que não creram a verdade, antes tiveram prazer na iniqüidade.
(2 Tessalonicenses 2:1-12)
Note que Paulo mostra que o Anticristo surgirá em um período de grande apostasia, que será uma pessoa específica, será adorado pelo mundo incrédulo, fará falsos milagres, se manifestará em um momento determinado e, por fim, será destruído por Cristo em sua Segunda Vinda.
O livro do Apocalipse descreve de forma clara a atuação do Anticristo no capítulo 13. Ele é a besta que João vê emergir do mar:
E eu pus-me sobre a areia do mar, e vi subir do mar uma besta que tinha sete cabeças e dez chifres, e sobre os seus chifres dez diademas, e sobre as suas cabeças um nome de blasfêmia.
E a besta que vi era semelhante ao leopardo, e os seus pés como os de urso, e a sua boca como a de leão; e o dragão deu-lhe o seu poder, e o seu trono, e grande poderio.
E vi uma das suas cabeças como ferida de morte, e a sua chaga mortal foi curada; e toda a terra se maravilhou após a besta.
E adoraram o dragão que deu à besta o seu poder; e adoraram a besta, dizendo: Quem é semelhante à besta? Quem poderá batalhar contra ela?
E foi-lhe dada uma boca, para proferir grandes coisas e blasfêmias; e deu-se-lhe poder para agir por quarenta e dois meses.
E abriu a sua boca em blasfêmias contra Deus, para blasfemar do seu nome, e do seu tabernáculo, e dos que habitam no céu.
E foi-lhe permitido fazer guerra aos santos, e vencê-los; e deu-se-lhe poder sobre toda a tribo, e língua, e nação.
E adoraram-na todos os que habitam sobre a terra, esses cujos nomes não estão escritos no livro da vida do Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo.
Se alguém tem ouvidos, ouça.
(Apocalipse 13:1-9)
Perceba a incrível semelhança entre esta visão em Apocalipse e a visão do Profeta Daniel. Na verdade o que o Apóstolo João viu foi um os quatro animais da visão de Daniel de forma unificada. Essa besta sobe do mar. Mar nas profecias bíblicas muitas vezes significa nações, povos, sistema geopolítico em sua agitação. Como exemplo disto, o profeta Isaías usa o mar para descrever as nações incrédulas:
Mas os ímpios são como o mar bravo, porque não se pode aquietar, e as suas águas lançam de si lama e lodo.
(Isaías 57:20)
O Anticristo, portanto, surgirá dessa política turbulenta e globalizada. Ele surgirá no meio do caos, do meio das águas que agitam as nações e será adorado. Ele incorporará todo o poder e crueldade dos grandes impérios do passado. Note que a besta que sobe do mar possuí várias cabeças, e representa o poder perseguidor de Satanás incorporado em todos os governos e impérios ao longo da história. No final, o que parecia estar morto resurge em vida, e a terra toda fica maravilhada. Essa besta toma diferentes formas, e, no fim, ela se manifestará na pessoa do homem da iniquidade que Paulo descreveu, o Anticristo escatológico.
Também devemos estar cientes que essa visão de João tinha uma aplicação prática na época em que o Apocalipse foi escrito. O Império Romano e seus perversos imperadores estavam representados, principalmente Domiciano, um imperador terrivelmente opressor ao cristianismo, e que tinha fama de ser o Nero ressuscitado. Ele exigia ser reconhecido como um deus, e era obrigatório o culto ao imperador, com a pena para quem descumprisse a ordem de prisão, confisco de bens e até a morte. Os sacerdotes do paganismo romano usavam técnicas ilusórias, e até mesmo ventríloquos para causar admiração nas pessoas, a fim de que a adoração fosse direcionada ao imperador. Esse contexto histórico se adéqua perfeitamente ao texto, e pré-figura o período final da história, onde a falsa religião em todo seu potencial humanista direcionará as atenções para o Anticristo, causando a admiração e adoração de muitos.
Quais as características do Anticristo?
De forma resumida, as características principais do Anticristo no Apocalipse são:
- Ele surgirá em um período de turbulência dentre as nações (vers. 1);
- Ele será a incorporação do próprio mau (vers. 2);
- Ele realizará grandes milagres (vers. 3)
- Ele agirá e governará pelo poder de Satanás (vers. 2-4);
- Ele será temido e reconhecido pelo mundo como alguém invencível (vers. 4);
- Ele será adorado (vers. 3-12);
- Ele perseguirá a todos que se recusarem adorá-lo e fará oposição direta a Deus e à Igreja de Cristo. Esse será o período final de terrível tribulação descrito por Jesus (vers. 6-15);
- Ele será apoiado pela segunda besta, a besta que sobe da terra, o falso profeta (vers. 11-18).
- Ele tem um número, e seu número é 666. Muitos estudiosos debatem o significado desse número. Certamente também houve uma aplicação prática para os irmãos das Sete Igrejas da Ásia Menor, porém, de forma geral, se biblicamente o 7 é o número da perfeição, aplicado como o número de Deus, o 6 é o número imperfeito, ou seja, o número do homem, o número do fracasso. Por mais que você repita o número 6 ele nunca será um 7. Portanto, o número da besta é fracasso mais fracasso, sobre fracasso. Ele será a personificação da imperfeição, o aposto da perfeição de Cristo.
- Ele terá um poder limitado, um tempo determinado a qual foi lhe permitido agir. Quando seu tempo acabar, ele será destruído por Cristo e condenado eternamente ao lago de fogo (vers. 5; Ap 19:20).