ÉTICA E LIDERANÇA
Ética é a ciência que estuda as normas de conduta moral que visam o bem comum. Ética tem a ver com o comportamento do ser humano nos seus relacionamentos. Não é um código de disciplina que estabeleça o que é certo e o que é errado, mas o estudo dos princípios sobre os quais se baseiam os conceitos de certo e errado. Os gregos legaram à civilização não apenas a palavra ética, derivada de ethos, costumes (Atos 16.21), mas também o estudo da ética como parte da filosofia. Para os gregos, o bem comum, objetivo da ética, era o bem da polis, da cidade, portanto os seus fundamentos eram políticos. Para os romanos, o bem comum estava subordinado aos interesses da república (res publica), “coisa pública”, interesses do Estado. Para os judeus, a ética tinha fundamento religioso. O bem supremo era a obediência à lei de Deus. A conduta humana era centrada na vontade de Deus expressa na Lei, que prescrevia o mal que o indivíduo não devia fazer contra o seu próximo.
A ética evangélica vai mais longe. Para Jesus, a ética determina não apenas o mal que não se deve fazer contra o próximo, mas o bem que se deve fazer em favor do próximo, ainda que o próximo seja um inimigo (Mateus 5.44; Romanos 12.20), ou ainda que esse bem custe a própria vida, segundo o exemplo do próprio Jesus. A ética evangélica entende que “é um mal não fazer o bem”, como diz Tiago: “Aquele que sabe fazer o bem e não faz, comete pecado” (Tg 4.17). Outra diferença notável está no fato de que, tanto para os gregos quanto para os judeus, a ética estudava as ações, enquanto Jesus olha para as intenções do coração (Mateus 5.27,28). Para nós, os cristãos evangélicos, os fundamentos da ética não estão na cultura ou nas leis de um povo, nem na autoridade da igreja, mas na vontade de Deus. Um viver ético, na conceituação evangélica é um viver de santidade conforme o caráter de Deus, como exalta Pedro: “Mas como é santo aquele que vos chamou, sede vós também santos em todo o vosso procedimento porquanto está escrito: Sereis santos porque eu sou santo” (1 Pd 1.15,16).
Em resumo: A fonte da ética cristã é o caráter de Deus, pois o homem é imagem e semelhança do seu Criador. A conduta moral dos filhos de Deus nos seus relacionamentos reproduz os atributos morais de Deus: A justiça, o amor, a bondade, a verdade, a pureza (ausência de qualquer contaminação moral). Para os cristãos evangélicos, Jesus Cristo é a encarnação perfeita do mais perfeito conceito de ética, que ele revelou em todo o seu ministério, cujo ápice está na cruz do Gólgota. Em Filipenses 2.14,15, Paulo demonstra entender essa verdade.
Os líderes cristãos devem: Primeiro, Viver a ética cristã como opção pessoal na sua conduta em todos os seus relacionamentos com seus liderados, com os outros líderes e com o povo de fora. Segundo, instruir seus liderados a manterem uma atitude de autocrítica em face dos princípios éticos e a dependerem da ação do Espírito Santo para colocarem esses princípios em prática no seu cotidiano. Terceiro: Pela sua conduta exemplar e pela palavra, denunciar os desvios éticos da sociedade. A mais veemente denúncia contra a falta de ética na sociedade será sempre o viver do cristão conforme a ética de Jesus. É o que o Mestre afirma em Mateus 5.13-16: “Vós sois o sal da terra... Vós sois a luz do mundo... Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus”.
A ética cristã, em última análise, é a consistência entre o ser e o saber. A conformação do ser ao saber pode representar uma intensa luta interior, como revela o apóstolo Paulo em Romanos 7:22,23: “Porque, segundo o homem interior, tenho prazer na lei de Deus; mas vejo nos meus membros outra lei guerreando contra a lei do meu entendimento e me levando à lei do pecado”. Sua exclamação diante desse paradoxo é surpreendente: “Miserável homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte?”.
Aqui entra em ação a obra do Espírito Santo operando no ser interior dos salvos, dando-lhes a sabedoria e a força moral para praticarem o que é justo aos olhos de Deus e para, desse modo, viverem conforme a ética do evangelho. Concluímos, pois, que o viver conforme a ética de Jesus não depende do magistério da Igreja, nem do esforço do indivíduo, mas da atuação franca do Espírito Santo. Para que esse ideal se transforme em realidade, três condições se tornam indispensáveis:
Primeira – Novo nascimento. A ética cristã começa com o sopro do Espírito que dá ao homem uma nova natureza espiritual. Não é possível esperar do indivíduo não regenerado, uma conduta coerente com os princípios éticos do evangelho, como não é possível esperar que uma árvore má produza fruto bom, ou que uma fonte salobra produza águas doces. Nunca haverá uma sociedade ética sem que os indivíduos que a compõe sejam nascidos de novo. Daí brota a primeira grande responsabilidade do líder cristão: ser, ele mesmo, um agente de transformação espiritual da sociedade pela proclamação do evangelho de Cristo visando à conversão dos pecadores para, em seguida, despertar e conduzir os santos na evangelização do mundo.
Segunda – Conhecimento da Bíblia. Se os salvos não se familiarizarem com os ensinos éticos da Bíblia, como poderão colocá-los em prática no seu viver? A Palavra de Deus continua sendo a arma do Espírito Santo para a transformação do homem e da sociedade. Não há sucedâneo para a Palavra de Deus na construção de uma sociedade segundo os padrões éticos de Jesus. Assim, torna-se um dever primordial do líder cristão conhecer e ensinar a Palavra de Deus. Os santos se reúnem como igreja para louvar a Deus, para celebrar a graça de Cristo, para estreitar seus laços de amor, para praticar a ação social, mas se todas essas ações não forem fundadas na Palavra de Cristo, será como a casa edificada sobre a areia: não resistirá aos ventos de doutrinas que não param de soprar dos quatro cantos da terra e cairá, deixará de ser a única agência que Cristo poderá usar para transformar o mundo que jaz nas trevas em um novo mundo iluminado pela sua graça.
Terceira – Ação, capacitação dos santos para agir visando à transformação da sociedade que só produz os frutos da carne em uma sociedade na qual é produzido o fruto do Espírito (Gl 5.19-24), uma sociedade que vive os princípios éticos do evangelho. Essa é também uma tarefa essencial à natureza da liderança cristã. Os liderados não aprendem sozinhos. Precisam ser ensinados (mente), motivados (emoção) e impulsionados (vontade) na prática da ética cristã, que não consiste apenas em não causar o mal ao seu próximo, mas causar-lhe o bem, o bem maior, o bem supremo que é a salvação.
Fonte: www.ufmbb.org.br
Por Jhony Ribeiro
Cordialmente,