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terça-feira, 29 de outubro de 2019

Cultura e Santidade- A Queda.

CULTURA E SANTIDADE.


Texto Básico: Gênesis 2.4-17
Leitura diária
Gn 2.4-17 A cultura no jardim
Sl 14.1-7 Todos se corromperam
Rm 7.7-25 Em mim não habita bem nenhum
Gn 4.17-26 Os descendentes de Caim
1Pe 1.13-21 Tornai-vos santos
1Jo 2.1-6 Andar como ele andou
Ap 7.9-12 De todas as tribos, povos e línguas

Introdução

Hoje veremos os efeitos da Queda na cul­tura humana. Veremos que a cultura, assim como todas as áreas da vida humana, também foi contaminada pelo pecado e, assim como fazemos em todas as outras áreas da nossa vida, também na cultura precisamos nos esforçar para amenizar os efeitos do pecado, restaurando-a para a glória de Deus. Alguns importantes elementos da cultura, tais como a relação humana com a natureza, as relações familiares e o trabalho não serão tratados aqui porque foram discutidos em outras lições. Hoje estudaremos a relação do cristão com a cultura em geral e a importância da redenção da cultura.

I. A questão da cultura

Quando abrimos a Escritura, encontramos a cultura em todas as páginas. Ela é encontra­da desde o jardim do Éden até os salmos de Davi; dos peixes que os apóstolos pescavam e comiam até as roupas que eles usavam; das rivalidades entre judeus e gentios até ao cos­tume de servir vinho nas festas de casamento. As próprias Escrituras refletem a variedade de culturas humanas. Elas são uma coleção de escritos produzidos por um período de cerca de 1500 anos por pessoas pertencentes a uma grande faixa de contextos sociais. Os estilos de vida de nômades como Abraão, Sara, Rebeca e Jacó diferem muito dos estilos de vida de Moisés, da vida palaciana de Davi, do mundo internacional de Salomão ou de várias comunidades judaicas do Egito, da Babilônia e da Pérsia.
Depois de sua ressurreição, pouco antes de subir ao céu, Jesus ordenou que os apóstolos fizessem discípulos de todas as nações, o que pressupõe que eles deviam fazer discípulos das mais variadas culturas. A visão de uma humanidade plenamente redimida é descrita como uma multidão de crentes de todas as na­ções, todas as tribos, povos e línguas (Ap 7.9). Além disso, a “glória e a honra” das nações são trazidas para a cidade celestial, embora “nada impuro entre nela, nem qualquer pessoa que pratique abominação ou falsidade” (Ap 21.23-27), o que aponta para o fato de que a cultura dos habitantes da cidade celestial é perfeitamente boa e santa aos olhos do Se­nhor, assim como era antes do surgimento do pecado no mundo criado por Deus.
Apesar de tudo isso, a questão da relação entre do cristão com a cultura sempre foi um tema de grande controvérsia capaz de provo­car debates muito ásperos. Na maior parte das vezes, porém, os argumentos são elaborados com base na opinião pessoal de cada cristão, na defesa das preferências pessoais de quem participa do debate. Sempre que isso é feito, o debate provoca mais calor do que luz. Nossa única regra de fé e prática é a Escritura e o que devemos fazer para nos orientar nesta e em todas as outras questões de fé e prática é nos debruçar sobre ela e ver o que ela tem a nos dizer, deixando nossas próprias opiniões sujeitas ao seu ensino. Vejamos, então, o que podemos aprender na Bíblia sobre nossa postura em relação à cultura.
Existem várias posturas adotadas pelos cristãos em relação à cultura, mas, na prática, duas posturas são predominantes. A primeira delas é a assimilação total da cultura, sem qualquer critério nem juízo de valor por parte dos cristãos. Pense, por exemplo, nas festas juninas e no carnaval. Estas duas festividades fazem parte da cultura brasileira. No entanto, as festas juninas são comemorações ligadas a alguns santos católicos. Não adoramos estes santos. Não dirigimos orações a eles nem cremos que eles tenham algum poder de in­tercessão diante de Deus, que é uma parte da obra de Cristo. Apesar disso, alguns cristãos não vêm problema em assimilar este elemento de nossa cultura e participar das festas ju­ninas. Aliás, algumas igrejas até organizam suas próprias festas juninas, sob a alegação de que estão “reivindicando esta festa para Jesus”. Será mesmo? Será que a vontade de Jesus se harmoniza mais com esta “reivin­dicação” do que com a orientação de Paulo à igreja de Corinto em 1Coríntios 10.14? O mesmo acontece com o carnaval. Esta é uma festividade muito popular muito usada para dar vazão à carnalidade, o que a torna totalmente inadequada para o cristão. No entanto, alguns cristãos não veem problema em participar do carnaval, o que demonstra que eles assimilaram totalmente este elemento cultural. Assim como acontece com as festas juninas, há igrejas que montam seus próprios blocos carnavalescos e participam de desfiles de blocos. Desta vez, a alegação é de que estão seguindo o exemplo de Paulo: “Fiz-me fraco para com os fracos, com o fim de ganhar os fracos. Fiz-me tudo para com todos, com o fim de, por todos os modos, ganhar alguns” (1Co 9.22). No entanto, embora tenha se feito tudo para com todos, o apóstolo nunca abriu mão do zelo por sua santidade nem aderiu ao pecado para alcançar pecadores. Aqui, também, continua em vigor a clara recomen­dação do Espírito dada por meio do apóstolo: “Fugi da impureza” (1Co 6.18). Este tipo de assimilação da cultura sem nenhum critério é uma pedra de tropeço para a santidade dos cristãos e um sério impedimento para que o cristão ou a igreja exerça seu papel de sal da terra e luz do mundo.
A segunda principal postura adotada pelos cristãos em relação à cultura é rejeitá-la to­talmente como algo mau. Bem, aqui também temos sérios problemas. O primeiro deles é que, como vimos acima, a cultura não é má. Ela foi criada muito boa por Deus e já existia no jardim antes do surgimento do pecado. Em­bora o pecado tenha feito estragos na cultura, ela continua mantendo alguns elementos que são importantes e bons em virtude de terem sido criados por Deus. O segundo problema é que simplesmente não é possível vivermos sem cultura. Não é possível dizer: a partir de hoje, não me envolvo mais com nenhum elemento cultural de nenhuma espécie. Como a cultura é o modo como nos relacionamos com a criação de Deus, inclusive com nos­sos semelhantes, ela está presente em tudo o que fazemos. O terceiro problema é que os cristãos que tentam evitar a cultura e as manifestações culturais simplesmente não conseguem fazer isso e, por isso, ficam com a consciência pesada toda vez que usam uma roupa da moda, vão ao cinema, ao teatro ou simplesmente torcem para um time de fute­bol. Esta postura faz com que o cristão viva permanentemente com a consciência pesada a troco de nada. “Para a liberdade foi que Cristo nos libertou. Permanecei, pois, firmes, e não vos submetais, de novo, a jugo de escravidão” (Gl 5.1), diz Paulo. E ainda: “Ora, o Senhor é o Espírito; e, onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade” (2Co 3.17).
Nenhuma das duas posturas faz justiça ao ensino bíblico. A primeira, ao assimilar a cul­tura sem nenhum tipo de critério, negligencia o fato de que o pecado fez grandes estragos em toda a criação de Deus, inclusive na cultu­ra. A segunda negligencia o ensino bíblico de que a cultura é muito boa e existia no jardim antes mesmo que o primeiro pecado fosse co­metido. Qual é, então, o ensino bíblico sobre isso? Como devemos lidar com a cultura?

 II. A cultura e os filhos de Caim

O livro de Gênesis relata um acentuado desenvolvimento cultural entre os descenden­tes de Caim (Gn 4.17-26). De acordo com o relato bíblico, Jabal desenvolveu formas para melhorar a habitação humana em tendas e criou procedimentos para lidar com o gado, refletindo, assim, dois importantes aspectos culturais: O modo como nos abrigamos e o modo como nos relacionamos com os meios de produção. Isso não é mau em si mesmo. Observe que, antes de Jabal, Abel já é men­cionado como pastor de ovelhas (Gn 4.2). Apesar disso, Jabal é mencionado como “o pai dos que habitam em tendas e possuem gado” (4.20) por causa de sua criatividade, que superou a habilidade pastoril de Abel. Jabal era mais habilidoso e mais criativo do que Abel no exercício de suas atividades. A própria Escritura relata que Abraão viveu em tendas e possuía gado (Gn 13.2, 18) e em nenhum momento foi repreendido por Deus por causa disso. Aliás, o tabernáculo que Deus ordenou que Moisés construísse para servir de local de comunhão entre Israel e o Senhor era uma grande tenda destinada ao culto. Jubal, por sua vez, desenvolveu a música instru­mental, sendo mencionado como “o pai de todos os que tocam harpa e flauta” (Gn 4.21). Estes instrumentos são mencionados por Davi como sendo usados na adoração a Deus (Sl 150). Ele mesmo tocava harpa (1Sm 16.23; 2Sm 6.3) e compôs salmos para serem can­tados ao som da flauta (Sl 5). Mais uma vez, embora o desenvolvimento musical tenha tido um bom impulso por meio de Jubal, isto não indica que a música em si e os instrumentos com os quais é executada sejam maus em si mesmos. Tubalcaim desenvolveu métodos para trabalhar com o bronze e o ferro. O bronze foi usado na construção do tabernáculo e do templo (Êx 35.24) e utensílios de ferro foram consagrados ao Senhor por Josué (Js 6.19). Portanto, embora os descendentes de Caim tenham desenvolvido a cultura em sua geração, isso de modo nenhum significa que ela seja “coisa de gente má” ou que seja má em si mesma. O que é mau é tentar viver sem Deus ou colocar a cultura no lugar Deus.
Em resumo, podemos dizer que a descen­dência ímpia de Caim foi responsável por grandes avanços culturais que enriqueceram a vida humana. Isso não significa necessaria­mente que os descendentes da linhagem santa de Sete não tivessem habilidades culturais refinadas ou que também não tenham con­tribuído para o desenvolvimento da cultura humana. Significa apenas que a linhagem de Caim se distinguiu nisso. O fato de as contribuições culturais da linhagem de Caim serem usadas pelos grandes vultos do povo de Deus – Abraão, Moisés e Davi – é uma demonstração de que a cultura não é má em si mesma e existem elementos dela que podem e devem ser aproveitados pelos cristãos.

 III. Criação, redenção e cultura

Nenhuma doutrina bíblica existe isolada­mente, independente das outras. Todas elas se articulam e formam um conjunto. Há duas doutrinas importantes que se relacionam dire­tamente com a doutrina da cultura.
A doutrina da criação nos mostra que es­tamos no mundo. A Escritura nos ensina que Deus criou o mundo e tudo o que existe nele (Gn 1). Depois de ter criado tudo, Deus viu tudo o que tinha feito e tudo era muito bom (Gn 1.31). Isso inclui tudo o que existe, in­clusive o ser humano. Em um mundo em que tudo o que foi criado é bom aos olhos de Deus, podemos afirmar, sem medo de errar, que não apenas as criaturas em si, mas também as relações que as mantinham entre si eram muito boas. O modo como o ser humano se relaciona com o restante da criação de Deus é o que chamamos de cultura. Portanto, pode­mos afirmar que a cultura é fruto das relações muito boas que o primeiro casal estabeleceu com as demais criaturas de Deus, inclusive entre si mesmos, ainda no jardim, quando tudo era perfeito e o pecado ainda não havia feito estragos.
Podemos dar alguns exemplos desta cul­tura santa original: o primeiro casal comia, isto é, mantinha uma relação com a parte da criação destinada à alimentação humana (Gn 1.29), o que significa que, no jardim, havia uma gastronomia santa e muito boa; eles também se comunicam entre si, isto é, eles falavam (Gn 2.23) e a língua é um dos principais elementos culturais da humani­dade; eles também mantinham uma relação de serviço com a natureza, cujo cuidado e preservação lhes foram confiados (Gn 2.15). a relação com a natureza, sem dúvida, é outro elemento importante da cultura humana e o mesmo se pode dizer do trabalho. Por fim, o primeiro casal mantinha uma relação mútua entre si, isto é, eles se relacionavam como pessoas da mesma comunidade (mantinham relações sociais) e também se relacionavam como casal (mantinham relações conjugais). Estes dois tipos de relacionamento também são elementos presentes na cultura. Por todos estes motivos, podemos afirmar que o ser humano foi criado para estabelecer relações com o restante da criação de Deus, o que significa que ele foi criado como um ser cul­tural. Podemos afirmar, também, que a cultura estava presente no jardim de Deus antes que houvesse pecado. Isso é muito importante para nosso estudo e para nossa vida, pois nos mostra que a cultura não é má em si mesma. O que é mau é o estrago que o pecado fez nela. Portanto, podemos e devemos agir no sentido de restaurar os elementos culturais que são bons, ao mesmo tempo em que rejeitamos os que são maus.
A doutrina da redenção nos diz que não somos do mundo. A doutrina da redenção nos ensina que o pecado não tem a última palavra. Embora o pecado tenha desvirtuado e conta­minado toda a criação de Deus, inclusive as relações que os seres humanos mantêm com ela, isto é, a cultura, isso não significa que ela permanecerá contaminada para sempre. Quando a obra redentora de Cristo for com­pletada, a humanidade redimida e a criação serão novamente aperfeiçoadas e santificadas (com a diferença de que não mais haverá a possibilidade de o pecado estragar a criação de Deus). Portanto, as relações que os seres humanos mantêm entre si e com o restante da criação de Deus também serão aperfeiçoadas e santificadas, o que significa que a cultura hu­mana será redimida e os efeitos que o pecado produziu nela serão eliminados.
No entanto, a redenção que será com­pletada quando a igreja for glorificada não deve começar lá no fim da história, mas agora, assim como acontece coma a nossa redenção. Quando somos alcançados pela graça salvadora de Cristo, a redenção tem início em nossa vida e ela tem continuidade em uma vida de santidade e obediência até o dia em que, na glorificação, ela se tornará perfeita. A cultura humana, portanto, precisa começar a ser redimida agora e isso é uma missão da igreja. Temos que interagir com a criação de Deus e com a sociedade em que estamos inseridos, mas não podemos fazer isso de modo pecaminoso. Precisamos rejei­tar os elementos pecaminosos da cultura ao mesmo tempo em que precisamos fortalecer e estimular os elementos que se harmonizam com uma vida de obediência ao Senhor. é assim que a igreja age para a restauração e santificação da cultura.

Conclusão

Como uma das consequências temporais do pecado, a cultura humana foi contaminada, por isso ela também precisa ser restaurada. As expressões culturais, criadas por seres humanos portadores da imagem de Deus e capacitados pela graça comum, contêm elementos positivos que podem e devem ser aproveitados como bênçãos do Senhor e também elementos nega­tivos e danosos, que precisam ser rejeitados e restaurados em Cristo.

 Aplicação

Você consegue identificar elementos positi­vos na cultura em que você vive e que podem ser aproveitados na vida cristã? Consegue também identificar elementos culturais que prejudicam sua comunhão com o Senhor? Este é o primeiro passo para você glorificar a Deus com sua cultura e, ao mesmo tempo, com sua santidade.

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Cordialmente,


                                
>>Publicado na Revista Palavra Viva – Os seres humanos e a queda, 4º trimestre 2010, pela Editora Cultura Cristã

quarta-feira, 23 de outubro de 2019

IGREJA UM MISTÉRIO REVELADO.

O GRANDE MISTÉRIO DE DEUS É REVELADO

EFÉSIOS 3.1-13
1 Por essa razão, eu, Paulo, prisioneiro de Cristo Jesus por amor de vocês, gentios —
2 Certamente vocês ouviram falar da responsabilidade imposta a mim em favor de vocês pela graça de Deus,
3 isto é, o mistério que me foi dado a conhecer por revelação, como já lhes escrevi brevemente.
4 Ao lerem isso vocês poderão entender a minha compreensão do mistério de Cristo.
5 Esse mistério não foi dado a conhecer aos homens doutras gerações, mas agora foi revelado pelo Espírito aos santos apóstolos e profetas de Deus,
6 a saber, que mediante o evangelho os gentios são co-herdeiros com Israel, membros do mesmo corpo, e co-participantes da promessa em Cristo Jesus.
7 Deste me tornei ministro pelo dom da graça de Deus, a mim concedida pela operação de seu poder.
8 Embora eu seja o menor dos menores dentre todos os santos, foi-me concedida esta graça de anunciar aos gentios as insondáveis riquezas de Cristo
9 e esclarecer a todos a administração deste mistério que, durante as épocas passadas, foi mantido oculto em Deus, que criou todas as coisas.
10 A intenção dessa graça era que agora, mediante a igreja, a multiforme sabedoria de Deus se tornasse conhecida dos poderes e autoridades nas regiões celestiais,
11 de acordo com o seu eterno plano que ele realizou em Cristo Jesus, nosso Senhor,
12 por intermédio de quem temos livre acesso a Deus em confiança, pela fé nele.
13 Portanto, peço-lhes que não se desanimem por causa das minhas tribulações em seu favor, pois elas são uma glória para vocês.

GRANDE IDEIA: O mistério da unidade da igreja é o plano eterno de Deus por meio de Cristo.

INTRODUÇÃO:

                Depois de nos mostrar como somos abençoados com toda sorte de bênçãos em Cristo e de fazer a primeira oração pedindo a Deus “que os olhos do coração de vocês sejam iluminados, a fim de que vocês conheçam a esperança para a qual ele os chamou, as riquezas da gloriosa herança dele nos santos e a incomparável grandeza do seu poder para conosco, os que cremos, conforme a atuação da sua poderosa força. (1.18,19). Paulo entra no capítulo 2, falando como Deus foi gracioso para com os gentios (nós), mostrando que antes de conhecermos a Cristo, éramos sem Deus, escravos do pecado e de satanás, mortos em nossos pecados. Merecedores da ira de Deus. Mas Deus nos deu vida por meio de Jesus. E nele, derrubou as barreiras de inimizade entre nós (gentios) e os judeus. Agora somos herdeiros de Deus, herdeiros das promessas de salvação feita aos judeus. Edificados para sermos morada de Deus.
                Agora no capítulo 3, Paulo começa a falar sobre o grande mistério de Deus que foi revelado a ele. Pastor HDL chamou de “O maior mistério de Deus na história”. Paulo estava preso por causa deste mistério. Que mistério é esse? O versículo 6 explica que por meio do evangelho, gentios e judeus formam um só corpo (o corpo de Cristo, a igreja) e são coparticipantes da promessa em Cristo. Foi exatamente este modo de pregar que condenou Paulo a prisão. Mas há algo para ser destacado já no primeiro verso. Paulo está preso. Mas se considerava prisioneiro de Cristo e não de Nero, o imperador romano. Paulo via sua vida pela ótica da soberania de Deus e não da perspectiva humana. Outra coisa importante, é que ele estava preso por amor aos gentios. Ele está preso por pregar que os gentios foram reconciliados com Deus e reconciliados com os judeus para formar um só corpo em Cristo. Atos 21 e 22 são capítulos relatam como os judeus se lançaram contra Paulo por pregar o evangelho também aos gentios.
                Assim, esta passagem nos apresenta duas verdades sobre o Mistério da Unidade da Igreja:

1.       A IGREJA É O CORPO DE CRISTO FORMADO PELA UNIÃO DE TODOS OS POVOS. (V.1-6).
1 Por essa razão, eu, Paulo, prisioneiro de Cristo Jesus por amor de vocês, gentios
2 Certamente vocês ouviram falar da responsabilidade imposta a mim em favor de vocês pela graça de Deus, 3 isto é, o mistério que me foi dado a conhecer por revelação, como já lhes escrevi brevemente. 4 Ao lerem isso vocês poderão entender a minha compreensão do mistério de Cristo.
5 Esse mistério não foi dado a conhecer aos homens doutras gerações, mas agora foi revelado pelo Espírito aos santos apóstolos e profetas de Deus, 6 a saber, que mediante o evangelho os gentios são coerdeiros com Israel, membros do mesmo corpo, e coparticipantes da promessa em Cristo Jesus.
                O grande mistério de Deus foi revelado ao apóstolo Paulo. E o mistério era que Deus, por meio de Cristo, havia feito com que todos os povos do mundo fossem unidos num só corpo. Assim, judeus e gentios podem agora serem chamados de irmãos em Cristo.
                Nos versos 2 e 3, Paulo explica que a ele foi dado um grande privilégio, mas também uma grande responsabilidade. Deus revelou a ele o seu maior mistério. Ele já havia falado disso em 1.10, quando afirmou que o propósito de Deus era de “fazer convergir em Cristo todas as coisas, celestiais ou terrenas, na dispensação da plenitude dos tempos”. Esse era o grande mistério de Deus que nenhum profeta ou líder do Velho Testamento havia conhecido. Mas que agora fora revelado aos santos apóstolos e profetas de Deus.
                Nestas palavras iniciais de Paulo, algumas verdades se destacam:
1º. A definição da palavra mistério. Paulo usou a palavra 3 vezes no texto (3,4 e 9). Mas esta palavra tem significado diferente no grego e no português. No português, é uma palavra que significa algo inexplicável, secreto, oculto. Mas no grego, a palavra significa algo que já foi revelado. Assim, aprendemos que no cristianismo bíblico, “não existem “mistérios” esotéricos reservados para uma elite espiritual. Ao contrário, os “mistérios” cristãos são verdades que, embora estejam além da compreensão humana, foram revelados por Deus e, portanto, agora, pertencem abertamente a toda a igreja” (John Stott).
                Olhando para o texto, descobrimos que Cristo é a fonte desse mistério. O evangelho é o mistério. E este evangelho está ao alcance de toda a igreja e não apenas de uma elite espiritual. Para Paulo o mistério diz respeito a Cristo e a um único povo formado de judeus e gentios (o restante dos povos do mundo). Há 3 expressões usadas no texto: coerdeiros, membros do mesmo corpo, e coparticipantes. Assim, um resumo seria que o mistério de Cristo é união completa de judeus e gentios por meio da união de ambos com Cristo.
                Assim, quando cada um de nós nos unimos a Cristo por meio da fé, nos tornamos um só povo com os demais cristãos do mundo inteiro. Nos tornamos a igreja de Jesus. O corpo de Jesus. Estamos unidos com Jesus e uns com os outros.
                Esta comunhão entre nós é o grande mistério revelado de Deus em Cristo. Nele, em Jesus, todo preconceito racial deve ser desfeito. Toda inimizade deve ser destruída pelo amor com que fomos amados. Toda barreira que separava os povos deve ser quebrada, pois nos tornamos um só em Cristo. O que Paulo está ensinando lhe causou prisões. Porque está sendo revelado que a nação judaica que antes era o povo escolhido de Deus, foi substituída pela igreja. Agora todos somos povo escolhido de Deus. Todos somos os santos de Deus. Todos sem distinção de raça, cor da pele, de todos os lugares do mundo, somos a igreja, o corpo de Cristo. Nossa união é alcançada em Cristo. Este é o mistério do evangelho! Glória a Deus por isso!
                Mas Paulo continua a nos ensinar e com ele aprendemos também que:

2.       A IGREJA É O CORPO DE CRISTO QUE DEVE FAZER CONHECIDO DE TODOS O PLANO ETERNO DE DEUS. (v.7-13).
7 Deste me tornei ministro pelo dom da graça de Deus, a mim concedida pela operação de seu poder.
8 Embora eu seja o menor dos menores dentre todos os santos, foi-me concedida esta graça de anunciar aos gentios as insondáveis riquezas de Cristo
9 e esclarecer a todos a administração deste mistério que, durante as épocas passadas, foi mantido oculto em Deus, que criou todas as coisas.
10 A intenção dessa graça era que agora, mediante a igreja, a multiforme sabedoria de Deus se tornasse conhecida dos poderes e autoridades nas regiões celestiais,
11 de acordo com o seu eterno plano que ele realizou em Cristo Jesus, nosso Senhor,
12 por intermédio de quem temos livre acesso a Deus em confiança, pela fé nele.
13 Portanto, peço-lhes que não se desanimem por causa das minhas tribulações em seu favor, pois elas são uma glória para vocês.
                No final do verso 6, Paulo comparou o mistério ao evangelho. E pelo evangelho que todos os povos são unidos para formar um novo povo, uma nova sociedade, o povo de Deus.
                Assim, o mistério foi a verdade revelada a Paulo, e o evangelho é a verdade proclamada por Paulo.
                Paulo se tornou despenseiro, administrador deste mistério. Ele se considerou o menor dos menores de todos os santos. Ele se sentia indigno de qualquer coisa por causa do seu passado (1Co 15.9). Mas ao dizer que era o menor, ele não estava sendo nem hipócrita, nem se afundando em autopiedade. Na verdade ele está combinando humildade com autoridade apostólica.
                No verso 7, ele deixou claro que seu ministério dependia do poder de Deus, o que descreve que o Evangelho é invencível.
                Havia três etapas a cumprir na pregação do evangelho, da parte de Paulo:
a.    anunciar aos gentios as insondáveis riquezas de Cristo (v.8). O assunto do evangelho são as insondáveis riquezas de Cristo. Que riquezas são estas? HDL afirma que são: 1. Ressurreição da morte do pecado; 2. Libertação da escravidão da carne, do mundo e do diabo; 3. Entronização vitoriosa de Cristo nas regiões celestiais; 4. Reconciliação com Deus; 5.reconciliação uns com os outros – o fim da hostilidade e da inimizade. 6. O ingresso na família de Deus; 7. A herança gloriosa em Cristo no novo céu e na nova terra.
                Paulo afirma que estas riquezas são insondáveis, inexplicáveis. Assim como o mar é profundo demais para ser conhecido na totalidade, o evangelho também o é.
b.    esclarecer a todos (os homens) a administração deste mistério (v.9). Nestas palavras, Paulo está tirando o foco do evangelho por um instante para focar na condição do homem a quem o evangelho (mistério de Deus) está sendo administrado. O homem a quem o evangelho se dirige está nas trevas da ignorância do pecado. Lenski afirmou que “Pregar o evangelho aos gentios era como expor o profundo mistério à plena luz do dia de maneira que todos pudessem vê-lo”.
A Bíblia nos ensina que o diabo cega o entendimento das pessoas (2Co 4.4). Deste modo, quando você evangeliza alguém, você está levando luz onde somente existe trevas. Você está oferecendo às pessoas a oportunidade de verem as verdades de Deus, de conhecerem plenamente este plano eterno de Deus, que deseja que todos os homens sejam salvos e venham ao pleno conhecimento da verdade.
c.     a multiforme sabedoria de Deus se tornasse conhecida dos poderes e autoridades nas regiões celestiais (v.10).Nestas palavras temos mais um ensino interessante de Paulo. O evangelho é direcionado para os homens, mas traz também lições para os anjos. Paulo diz que Deus está formando uma comunidade multirracial e multicultural como uma bela tapeçaria. Esse novo povo é formado de judeus e gentios (gente de todas as raças e nações). Esse novo povo foi reconciliado com Deus e uns com os outros, e portanto revela a multiforme sabedoria de Deus. A igreja é algo tão belo como uma obra de tapeçaria ou dos infinitos matizes de flores. Não há outra comunidade como a igreja. Não há outro povo como a igreja. A igreja consegue ter unidade em meio à total diversidade. Esta é a nova sociedade de Deus.
                A partir do verso 10, as palavras de Paulo nos alertam que a igreja, nós, somos qual um grande espetáculo. Cada crente é um ator. A peça é escrita, dirigida e produzida por Deus, mas quem está assistindo a tudo? São os anjos. A história da igreja cristã fica sendo uma escola superior para os anjos. Por meio da antiga criação (o Universo), Deus revelou sua glória aos seres humanos. Por meio da nova
criação (a igreja), Deus revelou sua sabedoria aos anjos. Os anjos olham fascinados ao ver judeus e gentios sendo incorporados na igreja como iguais.
                Ah irmãos, ainda nos falta muito para compreender o que é a igreja e como nos tornamos parte do plano eterno de Deus em Cristo. Mas quando alcançamos um entendimento correto do que somos descobrimos que temos livre acesso a Deus em confiança, pela fé nele (v.12). O plano eterno de Deus não dispensa você de orar. Temos que nos aproximar de Deus sempre. Nas versões mais antigas, Paulo usou três palavras; ousadia, acesso e confiança. Ousadia mostrando que não há mais medo, a palavra acesso, nos lembrando que não importa a raça, todos podemos chegar ao Pai em oração; a palavra confiança, nos aponta para a convicção de que somos aceitos por Deus, e jamais rejeitados.
                Paulo encerra este parágrafo, pedindo que os irmãos em Efeso não desanimassem por ele estar preso. A igreja ocupa um lugar central na história. O eterno plano de Deus não falou porque Paulo estava preso. Paulo nos ensina que nem mesmo as aflições podem nos afastar do caminho do nosso dever.

APLICAÇÕES:
1.       O mistério da unidade da igreja é o plano eterno de Deus por meio de Cristo.
2.       Paulo nos mostra que a História não é uma coletânea de fatos sem conexão uns com os outros, mas a História é Deus formando um povo para si mesmo para reinar juntamente com ele.
3.       Cristo morreu para nos reconciliar com ele e uns com os outros. 
4.       A igreja ocupa lugar central na história, no evangelho e na vida cristã.
5.       “Paulo termina o parágrafo como o começou. Sofrimento e glória estão interligados entre si. Se o nosso sofrimento traz glória para os outros, bendito seja Deus”. (Pastor Hernandes Dias Lopes)
     Por Jhony Ribeiro
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Cordialmente,


                                
BIBLIOGRAFIA:
Bíblia Sagrada na Nova Versão Internacional – NVI
STOTT, John R. W., 1921 – A mensagem de Efésios: a nova sociedade de Deus / 6.a ed. – São Paulo: ABU Editora, 2001.
FOULKES, Francis – Efésios: Introdução e Comentário – 2ª ed – Vida Nova, 2011
Lopes, Hernandes Dias – Efésios: igreja, a noiva gloriosa de Cristo / Hernandes Dias Lopes. — São Paulo: Hagnos, 2009.

sexta-feira, 18 de outubro de 2019

ESTUDO PROFUNDO SOBRE O INFERNO.

             O INFERNO SEGUNDO A BÍBLIA 

Texto: Marcos 9.43b, 44, 45b, 46, 47b, 48
Introdução
O debate sobre o inferno tem sido reacendido. Por diversas vezes, pregadores conhecidos e desconhecidos têm procurado dar suas visões acerca do inferno.
 Mais recentemente, um famoso preletor para jovens negou que o inferno seja real e/ou eterno. Alguns de seus livros têm sido traduzidos para nossa língua, bem como a sua série Nooma. Estou falando do Rob Bell, que recentemente causou estranheza no mundo cristão ao afirmar: um Deus amoroso jamais sentenciaria almas humanas para o sofrimento eterno. Será?
Parece que tem sido moda  (ou ressurgimento de antigas heresias) negar a existência e eternidade do inferno. Tudo em nome de anunciar uma mensagem que transija com o “bem-estar” e, principalmente, com a filosofia pluralista e a pseudotolerância de nosso século. A fim de transmitir a imagem de “pastores e pregadores” contemporâneos, tolerantes e “bona fide”, esses tais reformulam o amor de Deus, ensinando que “um Deus de amor não lançará ninguém no inferno”. Será contraditório um Deus de Amor condenar homens ao inferno? Se Deus realmente é amor, então como ele pode mandar alguém para o inferno?
No texto que lemos encontramos a seriedade com que Jesus alertou sobre esse terrível lugar. Jesus não disse que era um estado espírito, como querem alguns “pregadores modernos e adocicados”. Na verdade, nesta exposição temática, veremos o que a Escritura ensina sobre esse lugar terrível e algumas objeções levantadas por aqueles que negam o caráter eterno da punição. Rogamos a Deus que nos conceda cuidado, compaixão e, sobretudo, fidelidade ao pisar nesse terreno.

OPÇÕES OFERECIDAS PARA O DESTINO FINAL – SÃO BÍBLICAS?
Não parece ser uma boa opção alguém passar a eternidade em sofrimento. É isto que se deduz da palavra “inferno” e das expressões usadas por Jesus: tormento e sofrimento. No entanto, têm-se oferecido outras opções sobre o destino eterno dos homens. Quero avaliá-las nesse momento, pois elas respondem à pergunta: o que acontece conosco quando morremos? A seguir nos voltaremos para o texto bíblico em exame. São elas:
Reencarnação. Tem sido a visão mais popular. Os que ensinam essa concepção nos dizem que temos múltiplas e sucessivas vidas. No túmulo de Alan Kardec tem o seguinte lema: “Nascer, morrer, renascer e progredir sempre; está é a lei”. A Escritura não ensina reencarnação. Antes, ela diz: “aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo depois disso o juízo” (Hb 9.27).

Materialista/Naturalista. Este grupo, embora menor, tem forte expressão. Eles nos dizem que não temos alma, que somos apenas corpo e que, ao morrer, deixamos de existir.  Tomando as Escrituras como autoritativa, encontramos o Senhor Jesus dizendo: “E não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei antes aquele que pode fazer perecer no inferno a alma e o corpo” (Mt 10.28).

Universalistas. Alguns contemporâneos têm adotado essa visão. Entre eles o próprio Rob Bell. É também a teoria exposta no livro A Cabana (William P. Young, Ed. Sextante, 2008). Eles ensinam que no final todos que estão no inferno serão salvos e o inferno esvaziado. Por pensarem que todas as religiões conduzem a Deus, entendem então que todas as pessoas serão salvas. Porém, não é isso que Jesus Cristo ensinou. Na verdade, a própria morte de Jesus é sinal de que apenas alguns serão salvos (Cf. Mt 202.8; Mc 10.45). Também disse Isaías ecoado em Paulo: “Também Isaías clama acerca de Israel: Ainda que o número dos filhos de Israel seja como a areia do mar, o remanescente é que será salvo” (Rm 9.27).

Purgatório. Esta é a doutrina esposada pelo Catolicismo Romano. De fato, a não ser no Livro Apócrifo de 2 Macabeus 12.46, as Escrituras não reconhecem tal doutrina. O que ela ensina? Ouçamos o que diz o Catecismo Católico: “Os que morrem na graça e na amizade de Deus, mas não estão completamente purificados, embora tenham garantida a sua salvação eterna, passam, após a sua morte, por uma purificação, a fim de obterem a santidade necessária para entr
arem na alegria do céu” (C.C, 1030 – 1032).

 Aniquilacionismo. É a crença de que os incrédulos não irão sofrer eternamente no inferno, mas que, após algum tempo, serão extintos e deixarão de existir. Embora homens de Deus como John Stott tenham crido nesta doutrina, à luz das Escrituras e da História da Igreja como registrada nas Confissões, a posição cristã tem sido de que os ímpios sofrerão eternamente no inferno. Ouça o que diz a Escritura: “E o diabo, que os enganava, foi lançado no lago de fogo e enxofre, onde está a besta e o falso profeta; e de dia e de noite serão atormentados para todo o sempre.” (Ap 20.10; Cf. 14. 9 -11; 19.20).

O ENSINO BÍBLICO SOBRE O INFERNO
Por três vezes no texto, Jesus adverte aos discípulos: “melhor é para ti entrares na vida-reino de Deus – aleijado, coxo e cego – do que ires para o inferno” (v. 43, 45, 47). A cada advertência Jesus também acrescenta algo sobre o inferno: “para o fogo que nunca se apaga [ARA- inextinguível] (2x)” seguida de outro qualificativo: “onde o seu bicho não morre”.
Que descrição terrível vindo da doce voz do Senhor!
Precisamos lembrar que os discípulos não se impressionaram com a descrição. Por quê? Embora fosse uma nova revelação no ministério de Jesus, a descrição já era conhecida pelos discípulos na leitura dos Profetas: “e sairão [os eleitos], e verão os cadáveres dos homens que prevaricaram contra mim; porque o seu verme nunca morrerá, nem o seu fogo nunca se apagará; e serão um horror a toda a carne” (Is 66. 24). Diante das palavras de Jesus e, agora, considerando o todo da revelação bíblica, vejamos qual é o ensino bíblico sobre esse lugar.
Primeiro, o inferno é um lugar real. Jesus diz que as pessoas “vão para o inferno”. O verbo (eiseltein) usado implica em “deslocar-se” ou “separar-se”. No nosso texto usa-se com a preposição (eis) e o substantivo ten geennan. Essa construção gramatical dá a noção espacial . Desse modo, o que Jesus quer dizer é que alguém é “separado para dentro da Geena”. Mas, o que era a Geena?
A palavra traduzida por “inferno” (geena) era uma referência a um lugar chamado de “Vale de Hinom” (Cf. Js 15.  8; 16.18; 2 Rs 23. 10; 2 Cr 33.6). Ficava ao sul de Jerusalém e lá, os antigos judeus apóstatas, sacrificaram seus filhos ao deus pagão Moloque (Cf. 2 Cr 16.3; 21.6; Jr 7. 31; 19.5,6; 32.35). Foi o Rei Josias quem pôs fim a essa prática e transformou o lugar num lixão da cidade. Ali eram jogadas as carcaças de animais que eram queimadas dia e noite. Havia um fogo por baixo do monturo e, por não faltar carniças, nunca deixava de haver vermes.
Veio a ser, portanto, o designativo do lugar de juízo de Deus e se passaria a chamar “Vale da Matança” (Cf. Jr 7. 32; 6, 7). Ao dizer, então, que os ímpios “vão para a Geena [inferno]” têm-se uma ideia acerca do horrível lugar. Decerto que não havia outra figura para demonstrar quão terrível e miserável é o inferno. Não havia descrição mais chocante para descrever sofrimento e tormento. Então, afirmamos à luz das Escrituras, o inferno é um lugar real.
Segundo, é um lugar de consciência. Ora, ao dizer que “é melhor isso do que aquilo”, Jesus Cristo revela que aqueles que vão para o inferno estão conscientes de suas escolhas. Poderiam ter escolhido “ficar sem uma mão, um pé ou um olho” e entrar no reino de Deus, mas preferiram perder a sua vida. Semelhante imagem apresenta no v. 42 – “melhor lhe fora que lhe pusessem ao pescoço uma pedra de moinho e que fosse lançado no mar” – em que aquele que fosse motivo de tropeço para um crente mais pequenino estava ciente do tropeço causado. Também o causador de tropeço estava consciente de sua pedra no pescoço e do lugar onde estava se lançando. De igual modo, aqueles que vão para o inferno saberão onde estão e por que estão ali.
Terceiro, é um lugar de permanente sofrimento. Quando Jesus diz que “o fogo nunca se apaga e o verme não morre”, aponta para uma realidade permanente. O que mantém o fogo aceso é a existência de material para combustão. No inferno não faltará material para combustão. Claro que, ao usar a referência de “fogo” pode-se muito mais falar do sofrimento sob o juízo divino do que sob “chamas literais”, de acordo com alguns comentaristas. Diz Anthony Hoekema: “O objetivo das figuras, porém, é que o tormento e angústia internos, simbolizados pelo verme, nunca terão fim e os sofrimentos exteriores simbolizados pelo fogo nunca cessarão. Se as figuras utilizadas nesta passagem não significam sofrimento sem fim, então elas não significarão coisa alguma”.
Por diversas vezes, Jesus usa figuras semelhantes para falar do sofrimento eterno. Por exemplo, Jesus disse que é um lugar descrito como uma “fornalha de fogo” onde “haverá choro e ranger de dentes” (Mt 13.50; ); Jesus disse que os justos irão para vida eterna, mas os ímpios para “o tormento eterno” (Mt 25.46). Ora, não faria sentido pensar que os justos estarão junto a Deus por toda eternidade e, no mesmo texto, Jesus pensar que o tormento é temporário. O inferno também é chamado de “trevas” (Mt 25.30; 22.13). Em outra designação é que os que são destinados ao inferno “ira e indignação […] tribulação e angústia” (Rm 2. 6-9). De acordo com João, os ímpios serão “atormentados de dia e de noite pelos séculos dos séculos” (Ap 20.10). De acordo com Apocalipse 19.20, a Besta e o Falso Profeta foram lançados vivos no “lago de fogo e enxofre”. Porém, depois de Mil Anos eles ainda estavam lá, onde receberão a companhia do diabo (Cf. Ap 20.10).
Quarto, o inferno é o lugar da Ira de Deus. Quando Jesus diz “fogo que nunca se apaga”, isso nos fala não apenas do sofrimento, mas também da ira de Deus. Em mais de 600 lugares, a Bíblia fala sobre a ira de Deus. No caso específico do inferno, o fogo não é purificador, mas o “fogo da ira de Deus”. Alguns há que costumam colocar os atributos de Deus uns contra os outros, como se, porventura, algum atributo de Deus prevalecesse sobre os demais. Porém, a justiça de Deus, bem como seu amor e soberania, exigem a existência do inferno. Porque Deus é justo, ele não pode contemplar os pecados (Hb 1.13). Porque Deus é amor e amou ao mundo, aqueles que rejeitam esse grande amor rejeitam tão grande salvação (Hb 2.3).  Porque Deus é soberano, o mal precisa ser derrotado. Deus vencerá no final (Ap 20). O inferno, portanto, é o efeito da Ira de Deus. Conclui-se daí que o inferno não é governado por Satanás, mas Deus Reina também no inferno. Como disse William Hendriksen: “o inferno é inferno porque Deus está lá, Deus em toda a sua ira (Hb 12.29; Ap 6.16). O céu é céu porque Deus está lá, Deus em todo o seu amor. É desta presença de amor que o ímpio é banido para sempre.”
Quinto, Jesus ensina que é possível livrar-se de ir para o inferno. Ao dizer “melhor é isso do que aquilo”, Jesus apresenta uma maneira de ser lançado no inferno. Diante do contexto maior (8.34ss), fica claro que os “seguidores de Jesus Cristo”, porque renunciaram aos seus pecados, negaram-se a si mesmo, tomaram a sua cruz e, até mesmo, perderam a sua vida “por amor de mim [Jesus Cristo] e do Evangelho” (Cf. 8.35). Assim, ao fazer a comparação entre o que é “melhor”, estamos diante do teste do Senhor para saber quem é seu discípulo ou não. Aqueles que não renunciam seus pecados aqui terão de sofrer com eles longe da Glória de Deus, em eterno sofrimento. Jesus apresentou o preço a se evitar.
Outra coisa, por duas vezes Jesus diz “entrares na vida” (v. 43, 45) e uma vez diz “entrares o reino de Deus”. Ficamos sabendo pelo interlocutor João que ninguém pode ver o reino de Deus se não nascer de novo (Jo 3.7). Por “novo nascimento” o cristianismo ensina ser “a alegria sincera em Deus, por Cristo (1), e o forte desejo de viver conforme a vontade de Deus em todas as boas obras (2). (Is 57:15; Rm 5:1,2; Rm 14:17. (2) Rm 6:10,11; Gl 2:19,20)” (Catecismo de Heidelberg, p. 90).
O próprio Jesus reconheceu que o inferno não foi preparado primeiramente para o homem, mas para o “Diabo e seus Anjos” (Mt 25.41). E para livrar o homem de ir para o inferno, “Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3.16). Porém, porque o homem permanece indiferente a Jesus Cristo, ou seja, não crê no Filho, então “não verá a vida, mas a ira de Deus sobre ele permanece” (Jo 3.36).
E, ENTÃO?
Existem temas nas Escrituras que são dolorosos. Falar sobre o inferno é um desses temas. Porém, a doutrina sobre o inferno é parte da Teologia Bíblica, e como prova disso, o Senhor Jesus e seus apóstolos a ensinaram repetidamente.  Como disse o Bispo John Ryle, “não há misericórdia alguma em ocultar dos homens o assunto a respeito do inferno. Por mais temível e tremendo que seja o inferno, ele deve ser uma realidade fortemente inculcada sobre todos, como uma das grandiosas verdades do cristianismo. O apóstolo João, no livro de Apocalipse, com frequência o descreveu. Os servos de Deus, hoje, não devem sentir-se envergonhados de confessar a sua crença nesse assunto. Se não houvesse ilimitada misericórdia em Cristo, para todos aqueles que nele creem, bem poderíamos nos esquivar desse temível tópico” (1994, p. 119).
Não pensem que é fácil falar sobre os milhões que passarão a eternidade no lago de fogo. Alguns amigos até acham minha posição meio dantesca e, por isso, medieval. No entanto, minha tarefa como ministro do Evangelho é falar a verdade, seguir os passos do Mestre, mesmo que, ao expor essa doutrina, alguns se sintam incomodados com ela. Muitos estão a passos largos no caminho do inferno, caminhando sobre um grande abismo que não se abre para engolir alguns dos tais, tal como engoliu vivo a Datã, Coré e Abirão (Nm 16. 30-33) por causa das muitas misericórdias de Deus, desse mesmo Deus que eles provocam a sua ira.
Muitos ainda amam os seus pecados e, de forma enganosa, acreditam que podem desfrutar da eternidade com Deus sem seus pecados serem perdoados. Qual não será a surpresa de muitos ao perceberem que estão debaixo da Ira de Deus, simplesmente porque relutam em amar a Deus. Não é amor aos amigos e inimigos se não se anunciar o perigo que estão correndo. Talvez seja preciso que alguns precisem sentir o fogo do abismo queimando sob seus pés.
Dirijo-me àqueles que ainda não despertaram para conversão e para o perigo que estão correndo.
O inferno é para todos que não estão em Cristo. Hão de suportar o peso da ira de Deus. Foi João quem disse que Deus mesmo pelejará contra os que não se converteram ou que pensam que são convertidos. O Senhor Disse: “Eu sozinho pisei no lagar, e dos povos ninguém houve comigo; e os pisei na minha ira, e os esmaguei no meu furor; e o seu sangue salpicou as minhas vestes, e manchei toda a minha vestidura” (Is 63.3). Outra vez João, o Discípulo do Amor, viu a cena terrível: “E da sua boca saía uma aguda espada, para ferir com ela as nações; e ele as regerá com vara de ferro; e ele mesmo é o que pisa o lagar do vinho do furor e da ira do Deus Todo-Poderoso” (Ap 19.15).
Não há nada entre eles e o inferno a não ser a misericórdia de Deus. Mas lembrem-se: Ele está irado e quem pode lhe impedir de agir contra os seus pecados? Alguns supõem equivocadamente que está tudo bem com eles porque têm saúde, prosperidade, alegria, vão à igreja e desfrutam das bênçãos comuns de Deus. Mas isso não é garantia de que serão livres do inferno. A única garantia encontra-se no Cordeiro de Deus, que sofreu a Ira de Deus pelos homens. Se isso não é amor de Deus, em entregar o seu Filho por pecadores, não sabemos, então, o que é amor.
E estou a par de que essa mensagem não é popular. Sei também que alguns encontrarão pessoas que procurarão lhes dissuadir da realidade do inferno. Mas, “por que a cruz e todo sofrimento [de Jesus ], a não ser que haja o inferno? A morte de Cristo perde o seu significado eterno a não ser que haja uma separação de Deus da qual as pessoas precisam ser salvas”.  Não pense, também, que o inferno é apenas uma ameaça, e não uma realidade. Se assim o fosse, Deus seria mentiroso. Deus não usa mentiras para atrair aos homens.
Como disse, essa não é uma mensagem popular. Mas ela é verdadeira porque a Bíblia é verdadeira, porque Jesus Cristo é verdadeiro e não pode mentir. Seja Deus verdadeiro e os homens mentirosos (Rm 3.3). Meus amigos, a visão que temos de nossos pecados não é um mínimo daquilo que Deus vê em nós. Certa vez, o pregador Jonathan Edwards, amparado numa visão estritamente bíblica, nos deu um quadro dos pecados dos homens:
Vossas iniquidades vos fazem pesados como chumbo, pendentes para baixo, pressionados em direção ao inferno pelo próprio peso, e se Deus permitisse que caíssem vocês afundariam imediatamente, desceriam com a maior rapidez, e mergulhariam nesse abismo sem fundo. Vossa saúde, vossos cuidados e prudência, vossos melhores planos, toda a vossa retidão, de nada valeriam para sustentar-vos e conservar-vos fora do inferno. Seria como tentar segurar uma avalancha de pedras com uma teia de aranha. Se não fosse a misericórdia de Deus, a terra não suportaria vocês por um só momento, pois são uma carga para ela. A natureza geme por causa de vocês. A criação foi obrigada a se sujeitar à escravidão, involuntariamente, por causa da vossa corrupção. Não é com prazer que o sol brilha sobre vocês, para que sua luz vos alumie para pecarem e servirem a satanás. A terra não produz de bom grado os seus frutos para satisfazer vossa luxuria. Nem está disposta a servir de palco à exibição de vossas iniquidades. Não é voluntariamente que o ar alimenta vossos corpos, mantendo viva a chama dos vossos corpos, enquanto vocês gastam a vida servindo os inimigos de Deus. As coisas criadas por Deus são boas e foram feitas para o homem, por meio delas, servisse ao Senhor. Não é com prazer que prestam serviço a outros propósitos, e gemem quando são ultrajadas ao servirem objetivos tão contrários à sua finalidade e natureza. E a própria terra vomitaria vocês se não fosse a mão soberana dAquele a quem vocês tanto tem ofendido. Eis aí as nuvens negras da ira de Deus pairando agora sobre vossas cabeças carregadas por uma tempestade ameaçadora, cheia de trovões. Não fosse a mão restringidora do Senhor, elas arrebentariam imediatamente sobre vocês. A misericórdia soberana de Deus, por enquanto, refreia esse vento impetuoso, do contrário ele sobreviria com fúria, vossa destruição ocorreria repentinamente, e vocês seriam como palha dispersada pelo vento.
Portanto, Deus está exortando-lhes, em nome de Cristo, por essa palavra, rogando-lhes que se reconciliem com Deus (2Co 5.11-20). Não há muitas opções. É estar em Cristo ou longe dele. É céu ou inferno. Não brinque de cristão, não brinque de crente, não brinque de religiosos ou mesmo ateu. O Senhor Jesus é o seu Deus e Salvador? De fato, você já o recebeu e, portanto, pode ser contado entre os Eleitos do Senhor? O machado já está posto à raiz e “toda a árvore que não dá bom fruto corta-se e lança-se no fogo” (Mt 7.19), disse o Senhor Jesus. Onde estão os frutos? O Senhor ainda disse: “Se alguém não estiver em mim, será lançado fora, como a vara, e secará; e os colhem e lançam no fogo, e ardem” (Jo 15. 6). Se isso não for uma realidade em sua vida, então a Ira de Deus permanece sobre você e você será lançado no inferno, no lugar que foi criado para o diabo e seus anjos. Rejeitando a presença de Deus, você estará em companhia do diabo e seus anjos. Fuja para os braços misericordiosos do Senhor Jesus enquanto é tempo!

Fonte:Teologia Brasileira
 Por Jhony Ribeiro
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