REFORMA PROTESTANTE E ESCOLAS PUBLICA.
1. Introdução
O presente trabalho apresenta a origem da educação pública. Sabe-se que devido à Revolução Industrial, a finalidade da escolarização foi um instrumento de trabalho. No século XVI, porém, devido às profundas transformações políticas e religiosas, a Reforma Protestante influenciou nas mudanças educacionais (GILES, 1987)
Segundo Freire (1996), conhecendo o significado da escola pública, a sociedade percebe que ela não é somente um transmissor de conteúdos, mas um formador de homens
Neste contexto, a presente produção científica visou questionar: Quais foram os fatos históricos que propiciaram o surgimento da Escola Pública?
Segundo Cambi (1999), o ensino público teve o seu início nas contradições religiosas e políticas do final da Idade Média. Parte-se da hipótese que o movimento da Reforma Protestante, iniciado por Lutero, teve influência na escolarização popular. Conforme Manacorda (1989), as manifestações sociais que ocorreram na Alemanha, por influência de Martinho Lutero, iniciaram a modificação do sistema de ensino
O homem é um objeto de análise e busca a conhecer a si próprio, e para isso é necessário uma elaboração científica que possibilite uma reflexão política, social e filosófica (BARROS; LEHFELD, 2000)
Segundo Cás (2008), para que o conhecimento científico possa ter um embasamento e que as hipóteses se transformem em conhecimentos científicos, é preciso que o trabalho tenha uma fundamentação bibliográfica, com autores que abordaram o assunto
Giles (1987) afirma que o propositor na revolução da educação foi Martinho Lutero, com sua proposta em modificar o currículo escolar cristão, o método e professores
O objetivo da pesquisa foi verificar os fatos históricos que propiciaram o surgimento da Escola Pública e entender o sistema público de educação, bem como os interesses dos diferentes segmentos da sociedade
Este trabalho foi estruturado em quatro capítulos, sendo que o primeiro apresenta a educação e a cultura na Baixa Idade Média; o segundo trata de Lutero e a Reforma; o terceiro capítulo aborda a metodologia da pesquisa e, por último, as concepções de Martinho Lutero na educação.
2. Educação e Cultura na baixa idade média
2.1 A Educação Medieval
A Educação Medieval era articulada com a Igreja católica e não havia uma estrutura sistematizada. Os estudos aconteciam dentro dos templos religiosos. O ensino se baseava nas leis divinas, no princípio de que o homem foi concebido à imagem e semelhança de Deus, não podendo desobedecer às escrituras sagradas.
Luzuriaga (1963) afirma que na idade medieval não surgiram grandes teóricos na educação; em compensação houve muitos educadores, geralmente professores, que eram monges e eclesiásticos. A influência cristã teve a sua duração em toda Idade Média, e a concepção dominante no conceito de educação era de disciplinar (MONROE, 1972).
O ensino que os educadores ministravam não tinha uma metodologia sistematizada, mas as leis que regiam a sociedade eram definidas pela Igreja Católica Romana. Conforme Cambi (1999, p.142), “O romantismo já tinha reconhecido a particularidade da sociedade medieval, centralizada em torno do valor religioso e da autoridade da Igreja”, percebe-se que a Igreja neste período tem uma grande força de alienação social, a cultura se baseava na religiosidade.
Conforme as cidades foram se desenvolvendo, criaram-se as escolas municipais fora das Igrejas. O ensino não acontecia em latim, e isto era muito significativo para os alunos (LUZURIAGA, 1963).
Dante Alighieri (1265-1321) é o reflexo do primeiro ímpeto em direção a um novo alento intelectual que vai impulsionar, entre outras coisas, um novo processo educativo. Este, aliás, já está incipiente nas comunas italianas do norte. Trata-se de um novo estilo. O estudo obrigatório do vernáculo e maior ênfase na emergente literatura nacional apontam para novos rumos na educação (GILES, 1987, p. 93).
Pode-se afirmar que a preocupação dessas escolas municipais era escolarizar uma sociedade que estava à margem da ignorância. Para chegar a este público e incentivar a importância do ensino, houve a necessidade de incluir o estudo do vernáculo, língua de origem de sua região. Quando as escolas passam a ter o estudo da literatura nacional, a educação começa a se popularizar, dando ênfase num ensino mais acessível, uma necessidade da sociedade da época.
Entretanto, em vários municípios, fundavam-se escolas sob controle municipal, esforço que encontra forte resistência por parte das autoridades eclesiásticas. Porém, o movimento continua e espalha-se, sobretudo em Flandres (GILES, 1987, p. 108).
Percebe-se que há uma grande resistência da classe nobre sobre o processo educativo, não havia incentivos para que houvesse um avanço na conquista pelo direito da abertura destas escolas. Quando esse projeto se realizava, era pelo mérito de algum bispo local.
Neste período os municípios já contribuíam com uma subvenção, e a cessão de edifícios e material representava um grande avanço no desenvolvimento das escolas municipais. Inicia-se uma transformação social, que teve uma ideologia humanista (LUZURIAGA, 1963).
2.2 O Renascimento e a influência na Educação
O século XIV foi marcado por transformações, em vários sentidos, inclusive no social e intelectual. Os grandes pensadores e cientistas começaram a se manifestar, isso fez com que a sociedade passasse por grandes transformações tecnológicas. Pode-se dizer que foi a época onde a modernidade começou a tomar corpo na sociedade, e influenciou muitas mudanças religiosas e culturais.
Foi o século em que começou a tomar corpo a Modernidade com quase todas as suas características: a secularização, o individualismo, o domínio da natureza, o Estado moderno (territorial e burocrático), a afirmação da burguesia e da economia de mercado e capitalista no sentido próprio (CAMBI, 1999, p. 243).
Foi o século marcado por uma nova estrutura social, com o surgimento da burguesia e o avanço na ciência. Na economia pode-se destacar que a busca de novos territórios comerciais faz o surgir o mercantilismo. E não se pode esquecer que esta influência mercantil foi causada com o princípio das grandes navegações (MONROE, 1972). Os estudiosos renascentistas observavam os fenômenos da natureza e isto que levou a grandes descobrimentos geográficos e as descobertas da astronomia que tornou base para o pensamento moderno e científico.
Esse grande avanço dá início ao desenvolvimento do transporte marítimo, influenciou na educação e aprimorou alguns conhecimentos. Giles (1987) afirma que o progresso comercial contribuiu para uma crescente secularização do processo educativo.
Com a modificação do mercado econômico e muitas atividades comerciais livres, havia a necessidade de se ampliar esse conhecimento para a sociedade e consequentemente ampliar as fronteiras comerciais.
Manacorda (1989) afirma que os mestres livres que ensinavam fora do ambiente escolar foram protagonistas de uma nova escola, dando valor para as suas situações jurídica e social. Esta visão mostra a importância desta nova fase econômica, que trouxe a abertura de novas ideias, impulsionando um grande movimento político religioso.
A atividade destes mestres livres, porém, deve ser estudada mais de perto e explicada mais estreitamente em relação ao surgimento de uma nova sociedade de mercadores e artesão, que têm como centros de vida as cidades organizadas em comunas e como expressão cultural mais características e visivelmente nova as literaturas em vulgar (MANACORDA, 1989, p.168).
O nascimento de centros e cidades organizadas fez com que a população tivesse mais vínculos sociais, isso exigia uma comunicação mais expressiva. Segundo Giles (1987), um bom cidadão tem que unir a atividade política, cultural e intelectual, conjunto imprescindível para o processo educativo, e só a educação prepara para a liberdade. De acordo com Monroe (1972, p. 146) “A Renascença clássica dos séculos XV e XVI foi, em primeiro lugar, um movimento intelectual, estético e social. Como tal, causou modificações profundas em todas as fases do pensamento e da pratica educativa”
O movimento renascentista proporcionou profundas modificações sociais, gerando grande impacto na educação. Foi o período que as literaturas foram popularizadas, as escolas contavam com o apoio dos municípios, ensinavam o vernáculo, e se distanciaram das Igrejas, com isso, conflitos de pensamentos começaram a se manifestar.
2.3 A Cultura e Arte Renascentista
Baseado na cultura grega clássica, a literatura medieval tinha um aspecto individualista, onde o homem era o centro do universo. Mesmo com a mudança cultural, a Igreja continuava tendo uma grande influência no sistema político e educacional. Exaltavam-se os interesses católicos, induzindo a população à compra de indulgência
Segundo Cambi (1999), a idade medieval foi também marcada pelo medo e uma fidelidade escrava, onde tudo era temido em nome de Deus. Porém, o renascimento trazia uma alta critica na visão religiosa, foi o período da criação das literaturas, o estudo do grego e o latim, restauração das obras clássicas e desenvolvimento da ciência.
Com a Renascença começa, no século XV, nova fase na historia da cultura, a da educação humanista que, por sua vez, constitui o princípio da educação moderna. A Renascença não é apenas re-nascença, renascimento, ressurreição do passado, da antigüidade clássica, mas é antes de tudo criação, geração de algo novo (LUZURIAGA, 1963, p. 93).
A Renascença é princípio de uma concepção humana diferenciada da Idade Média, a característica desse movimento é de uma realidade mais risonha, humana e prazenteira da existência. De acordo com Monroe (1972), as obras literárias tinham o interesse para imaginação e o coração, apreciação do esforço artístico como nenhum outro período histórico.
Pode-se afirmar que a ressurreição da antiguidade clássica deu abertura para um novo movimento que começava a incentivar um novo método de ensino. No próximo capítulo, abordaremos a manifestação religiosa influenciada por Lutero, que foi o propositor da reforma das Igrejas cristãs e incentivou a modificação do sistema de ensino.
3. Lutero e a Reforma
3.1 Situação da sociedade europeia
Os séculos XV e XVI passaram por uma grande transformação econômica, o sistema feudal passava por um novo período político, social e cultural.
Para entender a crise no sistema feudal, é importante lembrar que na alta Idade Média a força econômica era agrícola, o senhor feudal exercia o controle das posses de terra e os homens que trabalhavam em suas propriedades, os servos. A relação entre o senhor feudal e os servos era determinada por obrigações recíprocas. Segundo Arruda (1995, p. 31).” Os servos trabalhavam nos domínios do senhor pagando com produtos a utilização da terra e a proteção militar que o senhor lhes proporcionava.”
Os servos eram dominados pelo senhor feudal que lhe garantia a sua segurança contra as constantes invasões, Os senhores feudais dependiam do trabalho dos servos para a sua sobrevivência, pois sem eles não havia comida para a sua família. De acordo com Arruda (1995), os servos não eram escravos, mas não podiam abandonar as terras e também não podiam ser expulso das propriedades do senhor feudal, assim se tornando presos.
Neste período não se produziam objetos com objetivo de comercialização, os produtos eram somente para atender o consumo local, e na produção agrícola os trabalhadores não tinham o interesse em aumentar, pois não existia mercado de consumidor, e as técnicas agrícolas eram de má qualidade.
Segundo Miceli (1988), alimentação era basicamente de legumes e cereais e principalmente de trigo. A criação de gado se resumia em algumas vacas, carneiros e porcos, mas todo o privilegio era dos nobres que tinham o direito sobre toda a terra.
De acordo com Arruda (1995), se o servo produzisse mais os senhores aumentariam as cobranças de impostos, por isso as colheitas eram muito reduzidas para a população que era ameaçada a passar fome.
A fome também era causada pelos baixos rendimentos de trabalho agrícola, pois os instrumentos usados para lavrar da terra eram rudimentares e, em sua maior parte, de madeira. O ferro era tão raro e valioso que o simples roubo de uma faca era punidos rigorosamente. Daí a importância dos trabalhos manuais (MICELI, 1988, p. 7).
Pode-se afirmar o que tinha mais valor neste período não era possuir terras, mas o domínio que os senhores feudais tinham sobre o homem. E os instrumentos agrícolas, mesmo sendo grosseiros, eram de grande importância para o cultivo da terra.
3.2 Situação da Igreja
Para a Igreja, o homem deveria se preocupar com o seu destino após a morte, entre o céu e inferno, a missão da Igreja era auxiliar o indivíduo para conquistar a sua salvação. A Igreja, com objetivo de ajudar o homem a se salvar, condenava o comercio que visava lucro.
Para ajudar o homem a se salvar, a Igreja passou a condenar o comércio que visava lucros, pois, segundo os ensinamentos da Igreja, os bens materiais foram como meios para facilitar sua salvação e não para o seu enriquecimento (ARRUDA, 1995, p. 35).
O crescimento comercial não era estimulado pelas forças religiosas, com isso não havia um grande crescimento econômico.
Segundo Arruda (1995), a Igreja tinha a mesma organização semelhante da nobreza em domínio territorial. Ao longo da Idade Média, a Igreja se tornou a maior proprietária de terras da Europa, estruturando-se como a instituição mais poderosa neste período.
De acordo com Miceli (1988, p. 21), “Enquanto o rei e a nobreza tinham suas propriedades divididas por casamentos, heranças, favores e lutas constantes, a Igreja pôde acumular entre 20 e 35% de todas as terras.” O fato da Igreja acumular riquezas fazia com que as autoridades eclesiásticas tivessem domínio político sobre a sociedade.
A Igreja era responsável por passar todos os ensinamentos religiosos e culturais para toda a população, por isso os acervos de livros e bibliotecas eram dominados pelos monges, bispos e padres. A população não tinha acesso até mesmo aos livros sagrados e quando o individuo entrava na Igreja, a missa era celebrada em latim.
Segundo Verger (1999, p. 25), “O latim medieval era, antes de tudo, a línguas sagradas, aquela da Escritura, aquela da liturgia, do culto e dos sacramentos; em outras palavras, era a língua dos padres e monges.” Como a Igreja era a única que tinha o poder de abençoar e maldiçoar usava-se a ideia que para obter salvação era preciso a pagar indulgências.
Para realizar a possibilidade de salvar-se eternamente recomendava-se a renúncia aos bens terrenos que também significava a aceitação de uma vida miserável, a entrega de dízimos e a doação de riquezas acumuladas, o que muitos mercadores chegaram a fazer no fim de suas vidas, transferindo-se para os conventos com toda sua fortuna (MICELI, 1988, p. 24).
Na Idade Média tudo era temido em nome de Deus. Segundo Cambi (1999), foi um tempo marcado pelo medo que a Igreja cultivava por meio de suas doutrinas abusivas que praticamente obrigava a população a pagar indulgências, e aproveitava-se da falta de conhecimento para alienar o povo. Segundo o costume, quem comprasse alguma indulgência das mãos de um representante do clero era absolvido dos pecados e ficaria um tempo a menos no purgatório.
3.3 Vida de Lutero
Indignado com certos costumes da Igreja, o alemão Martinho Lutero (1483-1546) foi responsável pela Reforma Protestante. Lutero teve uma profunda influência social, econômica e política.
Martinho Lutero nasceu em 1483, em Eisleben norte da Alemanha. Seus pais queriam que ele fosse advogado, porém ele procurou ter sua formação num mosteiro em Erfurd. Aos 25 anos ele foi estudar na universidade de Wittenberg, onde se formou em estudos bíblicos. Lutero ficou escandalizado com os costumes do clero numa viagem a Roma, e com a proteção do Príncipe Frederico ele seguiu carreira como professor e pregador.
Mediante a análise de obras de historia da Educação, pode-se constatar que as orientações de Lutero sobre a forma de organização da educação escolar, tanto para os colégios de ensino secundário e para universidade como em sua proposta de criação das escolas elementares, sofreram forte influência de seu amigo Filipe Melanchthon (1497-1560), sendo difícil saber de forte influência de fato a autonomia e originalidade de algumas de suas ideias (BARBOSA, 2007, p. 166).
Melanchthon foi uma forte influência para Lutero na sua luta contra os abusos da Igreja, foi seu porta-voz quando esteve impedido de se manifestar publicamente. Martinho Lutero, por meio de seu ensino, criticava as doutrinas que a Igreja ensinava.
Como protesto contra os ensinamento doutrinários publicou as 95 teses e fixou na porta da Igreja de Wittenberg, criticando as práticas eclesiásticas e entrando em conflito com a autoridade papal. Segundo Manacorda (1989), os levantes sociais deram um impulso para a força política que modificou o sistema escolar.
De acordo com Cambi (1999, p. 243), “O século XVI foi marcado por profundas fermentações (rebeliões, transformações, rupturas)”, devido às manifestações ideológicas, a reforma religiosa causou divisões entre bispos e a população, abrindo caminhos para nova visão política e cultural.
Por meio da manifestação religiosa houve a divisão da Igreja, abrindo caminho para as Igrejas que protestavam contra os ensinamentos do clero. O protestantismo, não só contrariava as doutrinas da Igreja, mas também foi o que incentivou a população ter acesso as literaturas sagradas.
Pode-se dizer que, com o protestantismo, afirmam-se em pedagogia o princípio do direito-dever de todo cidadão em relação ao estudo, pelo menos no seu grau elementar, e o princípio da obrigação e da gratuidade da instrução, lançando-se as bases para a afirmação de um conceito autônomo e responsável de formação, não estando mais o indivíduo condicionado por uma relação mediata de qualquer autoridade com a verdade e com Deus (CAMBI, 1999, p. 248).
O movimento reformador foi o princípio para que houvesse uma transformação na sociedade, incentivava o acesso do ensino para toda a população.
A luta de Lutero era que o indivíduo se libertasse da alienação e tivesse acesso à educação, assim podendo argumentar sobre os seus direitos e deveres. Segundo Cambi (1999), era necessário que se mantivessem as instituições públicas que já havia nos municípios. Pode-se afirmar que Lutero inicia a proposta do ensino ser de responsabilidade do governo civil.
Porém, a promoção do processo educativo é dever não só da Igreja, mas também do governo civil, pois mesmo que não houvesse céu ou inferno, a educação seria necessária para formar um povo capacitado para governar sabiamente e organizar a vida social (GILES, 1987, p. 119).
O luteranismo defendia que o povo não podia ter por base somente um ensinamento religioso, mas também a sociedade tinha que ter uma instrução social que visasse um conhecimento político e econômico para formar uma sociedade bem estruturada. E acreditava numa nova escola que tinha a função de instruir o individuo, a cultura, a prosperidade e capaz de administrar as suas finanças.
Em seus discursos Lutero dizia que a instrução não podia ser mantida com força, mas com os livros (CAMBI, 1999). Segundo Giles (1987, p. 119) “A prosperidade da cidade depende diretamente de cidadãos bem formados, pois estes saberão manter uma sociedade estável”
Lutero se queixava que era uma grande negligência a Igreja não cumprir a missão educadora, a população não conseguia dominar a sua língua de origem, porém as missas eram realizadas em latim que dificultava muito mais a compreensão das escrituras (GILES, 1987).
Para Lutero, era preciso ensinar a população por meio de sua língua de origem. A tradução da Bíblia feita por Martinho Lutero foi uma grande oportunidade do povo ter o conhecimento da literatura sagrada, que era a força educacional neste período. De acordo com Manacorda (1989), era importante todos terem acesso à Bíblia traduzida em alemão para o verdadeiro conhecimento das escrituras
Conforme Aranha (1996, p. 91), “A educação se torna então tão importante instrumento para a divulgação da reforma, por dar iguais condições a todos os homens de leitura e interpretação da bíblia.”
O luteranismo defendia que todo o individuo tivesse o seu ato de fé por base na literatura das escrituras. De acordo com Aranha (1996), a Reforma Protestante propõe consultas diretas dos textos bíblicos sem a intermediação estabelecida pela tradição cristã.
A indignação de Lutero só se dissipou quando, ao interpretar os evangelhos, concluiu que os homens vivem por uma graça de Deus e que justiça divina é revelada pela leitura das escrituras, de modo passivo e independentemente dos méritos ou ações de cada um durante a vida. Foi o que se tornou conhecido como doutrina da salvação pela fé (MARTINHO LUTERO, 2008, p. 26-27).
Lutero acreditava que com a renovação religiosa estava se formando um novo conceito de utilidade social da educação, e com a reivindicação da tradução da bíblia se iniciava o projeto de alfabetização para os indivíduos menos favorecidos ao acesso a educação (GILES, 1987).
Martinho Lutero influenciou na reformulação do sistema de ensino, conceituando as modalidades que deveria ser aplicada na fase infantil até o ensino superior (ARANHA, 1996). Ele valorizava os conteúdos literários, matemáticos, históricos e musicais.
Segundo Aranha (1996), Lutero defendia uma educação universal e pública e que o Estado assumisse essa tarefa para todos terem acesso ao um ensino voltado com uma formação intelectual.
O próximo capitulo tem por objetivo abordar a metodologia da pesquisa.
4. Metodologia da Pesquisa
Este capítulo tem por objetivo abordar a metodologia da pesquisa. Foi preciso verificar os conteúdos bibliográficos e históricos, com análise da concepção científica do tema.
O homem também é objeto de analise; enquanto sujeito, é um ser que busca conhecer a si próprio. Portanto, é-lhe necessário, na elaboração de seu conhecimento, proceder a reflexão filosófica, religiosas e cientificas até mesmo repensar em suas concepções pré-cientificas (BARROS; LEHFELD, 2000, p. 39).
A fundamentação científica constata um conhecimento e por meio de reflexões e pensamentos que já foram escritos é que se tem embasamento para dar continuidade a novos conhecimentos.
Segundo Cás (2008), para a elaboração de um trabalho bibliográfico precisamos de um procedimento científico adequado e uma literatura que possa fornecer uma reflexão que transformará a hipóteses em uma teoria cientifica.
Praticamente todo o conhecimento humano pode ser acessado nos livros ou em outros impressos que se encontram nas bibliotecas. A pesquisa bibliográfica tem como objetivo encontrar respostas aos problemas formulados, e o recurso utilizado para isso é consulta dos documentos bibliográficos (CERVO, BERVIAN; SILVA, 2007, p. 79).
Para a realização deste trabalho, foi necessária a utilização do acervo acadêmico que contém informações que esclarece o contexto histórico que motivou a origem do ensino público.
De acordo com Cás (2008), é preciso sistematizar a teoria estudada para a construção do conhecimento. Segundo Marconi e Lakatos (2010, p. 116) “Dessa forma, a pesquisa bibliográfica não é mera repetição do que já foi dito ou escrito sobre certo assunto, mas propicia o exame de um tema sob novo enfoque ou abordagem, chegando a conclusão inovadora.”
A pesquisa bibliográfica tem por objetivo inovar as conclusões já existentes e aprimorar os conhecimentos dando um enfoque para novos temas que possam contribuir para sociedade.
Portanto, foi preciso levantar as informações obtidas na literatura e organizar esses dados para verificar todas as hipóteses que fundamentaram a origem da escola pública.
A importância de um trabalho bibliográfico para o educador é que ele pode verificar os fatos históricos que a sociedade vivenciou, e comparar os fatos dos dias atuais. Segundo Dalorosa (1999), professor não pode falar de educação sem analisar que homens querem formar, e suas características sociais.
A pesquisa com fundamentação teórica faz o educador se organizar culturalmente, e por meio da história pode levantar as características que levou a sociedade a estrutura política e econômica, pela qual a escola está sendo influenciada.
O quarto capítulo tem por objetivo verificar as propostas que Martinho Lutero fez para a educação.
5. As concepções de Martinho Lutero na Educação
5.1 As propostas de Lutero no sistema de ensino
[...] Caros Senhores, cada ano gasta-se tanto em espingardas, estradas, caminhos, diques e tantas outras coisas desse tipo, para dar a uma cidade paz e conforto; mas por que não se investe muito mais ou pelo menos o mesmo para a juventude pobre e necessitada, de modo que possam surgir entre eles um ou dois homens capazes, que se tornem mestres de escola? (LUTERO, 1524 apud MANACORDA, 1999, p.196).
A proposta que Martinho Lutero fez em seus discursos sobre a educação é que o conhecimento capacita o homem ao desenvolvimento social. Lutero mostra em seus depoimentos a sua indignação de ter tantos cursos superiores em sua época, porém não havia muitos profissionais instruídos com a formação de mestres ou doutores para beneficio da sociedade.
Segundo Cambi (1999), o princípio do direito-dever do cidadão é obrigação dos municípios, sendo gratuita e com recursos para toda a comunidade. Portanto, a instrução social é de obrigação e dever dos governantes. O incentivo de Martinho Lutero para a educação gratuita era o princípio para a sociedade chegar ao conhecimento e ter uma análise de seus deveres e direitos.
De acordo com Cambi (1999), Lutero em seus discursos diz como é importante formar cidadãos cultos e respeitadores das leis para garantir a paz e a força econômica da sociedade. As escolas são benéficas para as cidades e promove a paz e bom governo (GILES, 1987).
Segundo Lutero (apud MANACORDA, 1999, p. 1996) “ A prosperidade, a saúde e a melhor força de uma cidade consiste em ter muitos cidadãos instruídos, cultos, racionais, honestos e bem educados, capazes de acumular tesouros e riquezas, conservá-los e usá-los bem [...]”. Não bastava apenas assinar o próprio nome, era preciso ter uma educação que instrui para o desenvolvimento intelectual.
Como as famílias desfavorecidas economicamente tinham pouca instrução política era preciso orientar os pais que suas crianças deveriam frequentar a escola.
Lutero anima os pais de manter os seus filhos na escola e cita os bons empregos que estas crianças terão no futuro, assim com uma boa formação teríamos doutores e mestres e trazendo benefícios para a sociedade (GILES, 1987).
O interesse de Lutero pelos problemas da educação e da escola está contido numa série de discursos e de apelos dirigidos aos homens políticos alemães (Carta aos conselheiros comunais de todas as cidades da Alemanha, de 1524; Sermão sobre a necessidade de mandar os filhos à escola, de 1530), além de alguns escritos de caráter religioso (Grande e pequeno catecismo, de 1529) (CAMBI, 1999 p. 248-249).
De acordo com Giles (1987, p. 122) “Reconhecendo, na entanto, a força da oposição, Lutero afirma que o único meio deveras eficaz de realizar a reforma do processo educativo é através da obrigatoriedade do ensino”. Em seu discurso, Lutero afirma que só se atingirá uma sociedade bem instruída socialmente quando as autoridades obrigassem os pais a colocarem os seus filhos na escola.
Ora, homens desse tipo devem ser educados assim desde criança, como também mulheres desse tipo se educam assim desde pequenas. Portanto, é necessário que meninos e meninas sejam bem educados e instruídos desde a infância (LUTERO, 1524 apud MANACORDA, 1999, p.197).
Era necessário que a educação tivesse o seu início na infância segundo Giles (1987, p. 119) “Lutero lembra que a estabilidade da nova ordem espiritual depende da capacidade de as crianças compreenderem as Sagradas Escrituras, o que podem conseguir através da instrução.”
Lutero em seus discursos refere-se às meninas que não tinham oportunidade para o estudo, fosse incentivada também a frequentar a escola. De acordo com Manacorda (1999), era importante que as mulheres tivessem instrução social para saber governar bem a sua família
Para que o ensino atingisse com eficiência a população, Lutero sentiu a necessidade de organizar o sistema de ensino.
Porém, Lutero não se interessa tão somente pela teoria educacional, mas também pela prática da organização do ensino. No plano de 1528 preconiza a organização da escola em três divisões: uma para os principiantes, a segunda para aqueles que estão aprendendo a gramática e a terceira para aqueles que conseguem êxito na segunda divisão. No plano, Lutero não se limita a especificar detalhadamente as matérias, mas indica até o horário em devem ser ensinadas (GILES, 1987 p.120).
Segundo Giles (1987), Lutero propõe uma organização curricular onde ele separa em três divisões. A primeira divisão é para os iniciantes onde as crianças aprenderiam o alfabeto, credo e o pai nosso, depois de terem aprendido essa primeira etapa, iniciariam os estudos do Catão e Donato como introdução da leitura e escrita do latim, com a instrução do canto para auxílio da memorização.
Na segunda divisão os alunos aprenderiam conjugações de verbos no latim, exercícios de gramática, etimologia, sintaxe e prosódia. Estudariam algumas fábulas dadas com antecedência como dever e os mestres usariam a repetição constante como forma de memorização dos conteúdos. Na terceira divisão é composto pelos melhores alunos que dominavam á gramática, entretanto eles deveriam praticar composições de musicas, estudar a dialética e retórica (GILES 1987).
Para ele, não bastava o indivíduo ter um básico conhecimento das palavras. A proposta que Lutero defendia era organizar um sistema de ensino para todas as escolas do Estado, para combater a desigualdade social. De acordo com Cambi (1999), Lutero priorizava o ensino das línguas antigas e nacional, porque era o meio da população compreender as escrituras sagradas.
Em seu plano de ensino não faltou citar as disciplinas de ciência, matemática, arte, obras literárias (pagã e cristã) e música. Segundo Aranha (1996), os corais formados por Lutero emocionavam em suas apresentações.
A frequência escolar era limitada a uma ou duas horas; o restante do tempo era dedicado a trabalhar em casa (CAMBI, 1999). Porém os alunos da terceira divisão deveriam estudar em tempo integral e se dedicar à formação religiosa (GILES 1987.)
Os edifícios escolares tinham que ter uma estrutura para o seu bom uso e adotados de boas bibliotecas (CAMBI, 1999). Percebe-se que Lutero valoriza a leitura como fonte de instrução social, segundo Giles (1987, p. 120) “As escolas devem ser mantidas por patrimônios sistematicamente organizados e dotadas de boas bibliotecas.”
Segundo Aranha (1996), Lutero criticava a rigidez que as escolas tinham como forma de disciplina, e defendia a teoria de Erasmo (1466-1519) que a criança devia aprender de forma lúdica e verbal.
De acordo com Giles (1987, p. 120) “Todavia, e nisto Lutero está de acordo com as observações de Erasmo, condenam as formas extremadas de castigo e memorização inútil, práticas tão comuns na época."
Na proposição de novos métodos, Lutero (1995) opõe-se ao antigo sistema escolar baseado em punições físicas e pressões psicológicas que causavam sofrimento aos alunos (ou seja, a disciplina severa que recebeu na educação familiar e escolar) (BARBOSA, 2007, p. 170).
Lutero deixa uma reflexão para os mestres, alertando de seu papel formativo em relação ao aluno. É preciso motivar o aluno e não fazer da escola um lugar de tortura (CAMBI, 1999). Segundo Giles (1987), Lutero dizia que para alcançar uma eficiência no ensino, eram necessários professores com boa capacitação. O mestre devia possuir um bom equilíbrio emocional, ser justo e ao mesmo tempo demonstrar afetividade para com o seu aluno.
O mestre deve possuir em justo equilíbrio severidade e amor, já que “com o amor obtém-se muito mais que com o medo servil e a coerção”. Na escola não deve haver então espaço para as punições excessivas e para o estudo que não tenha uma finalidade e uma motivação precisa (CAMBI, 1999, p. 250).
As ideias educacionais de Lutero também foram importantes na parte disciplinar: era contra a postura rígida que a educação cristã oferecia e criticava os castigos e o verbalismo da escolástica (CAMBI, 1999). Para ele, a qualidade de ensino dependia de todo o conjunto, desde a metodologia até a parte docente.
5.2 A Luta de Lutero na reorganização educacional
A proposta de Martinho Lutero na educação é renovação tanto no sistema curricular quanto nas leis do Estado. As suas ideias deram inicio à mudança de uma escola religiosa para uma escola moderna.
Porem as revindicações feitas por Lutero por uma educação popular teve uma grande resistência da burguesia.
O principal foco de resistência veio da própria burguesia, o que levou Lutero a publicar um segundo tratado sobre a educação, em 1530, baseado na homilia Sobre a manutenção das crianças na escola,pregação que Lutero nunca proferiu em público, pois foi redigida para ser divulgada por escrito (GILES,1987 p.121).
Para a classe burguesa bastava somente a ler escrever, para eles os estudos era símbolo de vida fácil sem objetivo, comparando com a vida dura dos comerciantes (GILES, 1987). Porem Lutero combate este argumentos em seus discursos.
[...] O escrever não empenha somente a mão ou pé, deixando livre o resto do corpo para cantar ou brincar, mas empenha o homem inteiro. Quanto ao ensinar, é um trabalho tão cansativo que ninguém deveria ser obrigado a exercê-lo por mais de dez anos.” (LUTERO, apud MANACORDA, 1999, p.197).
Pode-se analisar o preconceito que a sociedade referente à educação, entretanto Lutero enfatiza que a educação deve estar vinculada com o trabalho para o desenvolvimento do processo econômico e político (MANACORDA, 1999).
Com De acordo com Cambi (1999), a ignorância da comunidade deveria ser combatida por meio da obrigatoriedade dos cidadãos mandarem os seus filhos a escola. Segundo Giles (1987, p. 122) “Reconhecendo, na entanto, a força da oposição, Lutero afirma que o único meio deveras eficaz de realizar a reforma do processo educativo é através da obrigatoriedade do ensino”
Segundo Barbosa (2007), pode-se constatar que Lutero deixa sobre a responsabilidade de organizar o sistema de ensinos dos seus colaboradores e sucessores.
Lutero deixou como herança um problema dos mais difíceis para seus colaboradores e sucessores. Como reconciliar a tradição clássica e filosófica com as rigorosas exigências da Reforma? Este problema ocupará os esforços dos três educadores aos quais Lutero confia a implantação da reforma processo educativo, a saber, Johannes bugenhagem (1485-1558), Felipe Melanchton (1497-1560) e Johann Sturm (1507-1589) (GILES, 1987 p. 123).
Estes educadores tiveram uma grande colaboração na organização no sistema de ensino, onde as suas propostas se dividiam na aprovação de professores, livros de didático e leitura.
[...] Reorganizou as escolas das igrejas metropolitanas (catedrais) e aquelas mais pobres, dos mosteiros e conventos, regulamentou o ensino da gramática, das Sagradas Escrituras e da teologia, e introduziu o estudo da teologia, submetendo tudo ao controle do bispo (Sessio V, Decretum de reformatione) (MANACORDA, 1999 p. 202).
Como uma estreita colaboração da reforma protestante as autoridades efetuou uma reorganização nas escolas municipais, e chega-se a fundar algumas escolas secundárias financiadas e controladas pelo estado, nascem assim os ginásios que é o núcleo duradouro da escola alemã (CAMBI, 1999).
Pode-se analisar que a luta de Lutero deu o inicio as transformações educacionais, e a suas propostas foi a inspiração para outros educadores fazer as mudanças no ensino público.
6. Considerações Finais
Com a analise bibliográfica pode-se concluir que a escola pública teve seu início a partir da Reforma Protestante. Martinho Lutero defendia por meio de seus discursos que o ensino é de responsabilidade do Estado.
A Bíblia era a literatura daquele período, mas os ensinamentos sagrados eram transmitidos em latim. Lutero argumentava para as autoridades eclesiásticas que todos deveriam ter acesso à leitura sagrada, por isso ele mesmo traduziu a Bíblia para o alemão para que a população tivesse clareza e compreensão da leitura.
Lutero propunha uma modificação no currículo escolar e acreditava na transformação da sociedade por meio da instrução social. Para Lutero é dever do Estado se preocupar com a formação do indivíduo, para a sociedade ter bons administradores respeitosos das leis. Portanto, uma sociedade bem instruída ajuda no desenvolvimento da cidade.
Lutero defendia que o ensino obrigatório, e que os pais tinham que priorizar alguns momentos para que seus filhos pudessem frequentar a escola.
O pensamento de Lutero é que se os jovens tivessem acesso ao conhecimento, eles teriam oportunidade de mudança econômica e cultural, isso refletiria no desenvolvimento social.
Fonte: https://psicologado.com/atuacao/psicologia-escolar/a-reforma-protestante-e-a-origem-da-escola-publica © Psicologado.com
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