A autoridade da Escritura
A Igreja da Idade Média afirmava que a autoridade das Escrituras procedia da Igreja, com base no texto de 1 Timóteo 3:15 que afirma: “A Igreja do Deus vivo, [é], coluna e baluarte da verdade.”
Mas este texto não afirma que a autoridade das Escrituras procede da Igreja. Quando um decreto é colocado numa coluna, a coluna serve para sustentar e proclamar o decreto, mas a autoridade do decreto procede do rei que o assina e não da coluna. A Igreja como coluna sustenta e proclama as verdades das Escrituras. A sua autoridade, porém procede de Deus.[1]
1. AS REIVINDICAÇÕES DO ANTIGO TESTAMENTO DE SUA PRÓPRIA AUTORIDADE
A primeira reivindicação da autoridade das Escrituras está em Êxodo 17:14, quando Moisés foi ordenado por Deus a escrever sobre a vitória contra os Amalequitas, num livro como memorial e foi a instruído a repeti-lo a Josué. Deus ordenou a provisão para preservar a primeira porção do cânon das Escrituras, dentro da Arca da Aliança no Santo dos Santos (Deuteronômio 31:24-26); e a feitura de uma cópia a ser utilizada pelo rei (Deuteronômio 17:18-19).
Após a morte de Moisés, Deus ordenou a Josué a não cessar de falar do livro da lei meditando nele dia e noite para obedecer aos seus ensinos (Josué 1:8). Quando Samuel declarou o direito do reino, ele escreveu-o num livro e o dedicou perante o Senhor (1 Samuel 10:25).
Escritores posteriores referiram-se aos seus predecessores como livros sagrados:
a) Daniel referindo-se a Jeremias (Daniel 9:2), afirmou que a profecia de Jeremias era Palavra do Senhor (Jeremias 25:11).
b) Os profetas Isaías e Jeremias mostraram cuidado em escreve as profecias em seus respectivos ministérios (Isaías 8:16 e Jeremias 36).
c) Zacarias no ano 520 a.C. referiu-se aos profetas anteriores como escritos que tinham status autoritativo em sua visão (Zacarias 1:4-6).[2]
d) O uso das expressões “disse o Senhor”, “falou o Senhor”, “veio a mim a palavra do Senhor”, 3.808 vezes no Antigo Testamento ratificam a autoridade divina das Escrituras.[3]
2. AS REIVINDICAÇÕES DO NOVO TESTAMENTO SOBRE A AUTORIDADE DO ANTIGO TESTAMENTO
Podemos avaliar a autoridade do Antigo Testamento através da visão de Jesus Cristo e da visão dos apóstolos.
2.1. JESUS VIA A ESCRITURA DO ANTIGO TESTAMENTO COMO UM LIVRO DIVINO.
a) Jesus via o Antigo Testamento como um registro fiel dos fatos históricos. Ele fez referências a Abel, Noé, Abraão, à instituição da circuncisão como fatos históricos (Lc. 11:51; Mt. 24:37-39; Jo. 8:56; Jo. 7:22) etc.[4]
b) Jesus usou histórias que muitos críticos consideram inaceitáveis como base de seu ensino, como por exemplo: o dilúvio de Noé (Mt. 24:37-39), Sodoma e Gomorra (Mt. 10:15; 11: 23, 24) e a história de Jonas (Mt. 12:39-41).
c) Jesus usou o A.T. como competente tribunal de apelação em suas controvérsias com os escribas e fariseus (Mt. 19:3-12), com os saduceus (Mt. 22:23-33).[5]
d) Jesus ensinou que nada passaria da lei, até que tudo se cumprisse (Mt. 5:17-20) e que a Escritura não pode falhar (João 10:35).
e) Jesus usou as Escrituras para refutar cada uma das tentações de Satanás. Tanto Jesus como Satanás aceitaram as afirmativas bíblicas como argumentos contra os quais não havia contestação.
2.2. OS APÓSTOLOS VIAM AS ESCRITURAS DO ANTIGO TESTAMENTO COMO AUTORITATIVOS
a) Os usos do Antigo Testamento no Novo Testamento atestam esta autoridade. São cerca de 239 citações formais, 1600 citações sem fórmulas introdutórias e muitas alusões ao Antigo Testamento. O apóstolo Paulo faz 93 citações do Antigo Testamento em suas 13 epístolas sendo 26 somente nos capítulos 9, 10 e 11 de Romanos. O livro de Apocalipse é um belo exemplo de Teologia do Antigo Testamento onde há 278 citações em seus 404 versos sem fórmula introdutória.[6]
b) O uso das fórmulas introdutórias pelos escritores do Novo Testamento demonstra que embora reconhecessem autores humanos das Escrituras, eles viam as Escrituras com autoridade divina. Jesus atribuiu ao Criador a autoria dos livros de Moisés (Mt. 19:3-8). Paulo usou expressões: “como diz Oséias”, “dele Isaías clama”, “como Isaías já disse”, “já Moisés dissera”, e “Isaías mais se atreve e diz” (Rm. 9:25, 27, 29; 10:19, 20). Para os escritores do Novo Testamento quando a Escritura fala, é Deus quem fala: “como está escrito”, “pois ele diz a Moisés”, “a Escritura diz a Faraó” (Atos 13:34, Rm. 9:13, 15, 17).[7]
c) A expressão “oráculos de Deus”, embora apareça apenas quatro vezes no Novo Testamento, para descrever o Antigo Testamento (Atos 7:38; Rm. 3:2; Hb. 5:12 e 1 Pd. 4:11); no texto de Rm. 3:2 refere-se à totalidade do Antigo Testamento, afirmando que todo o Antigo Testamento é a Palavra de Deus.[8]
d) As passagens de 2 Timóteo 3:16 e 2 Pedro 1:19-21, consideradas como clássicas no estudo da doutrina da Inspiração das Escrituras, atestam a autoridade da totalidade das Escrituras do Antigo Testamento.
3. AS REIVINDICAÇÕES DO NOVO TESTAMENTO SOBRE A SUA PRÓPRIA AUTORIDADE
escritores do Novo Testamento viam sua autoridade como procedente de Deus.
3.1. Paulo intitula-se apóstolo, arauto, testemunha e embaixador (Romanos 1:1, 5; Gálatas 1:8, 9; 1 Tessalonicenses 2:13; 1 Timóteo 2:7). Ele declarou que as cartas que escreveu eram para ser lidas na Igreja e obedecidas (Colossenses 4:16; 2 Tessalonicenses 3:14). Esta leitura pública seguia a prática da sinagoga, em que as Escrituras do Antigo Testamento foram lidas (Lucas 4:16, 17; Atos 13:15). A nova palavra profética é agora também para ser lida e obedecida (Apocalipse 1:3). Paulo tinha plena convicção de que seus escritos eram autoritativos. (1 Coríntios 2:13 e 14:37).[9]
3.2. Outros escritores do Novo Testamento deram testemunho semelhante. Lucas no prólogo de seu Evangelho (1:1-4) menciona seu cuidado em escrever de modo que a crença do leitor seja edificada sobre uma irrefutável base histórica.
3.3. João afirma que as coisas que ele escreveu aconteceram e foram de fato feitos na presença de testemunhas (João 20:30) e que seu próprio testemunho ocular sobre Jesus é verdadeiro (João 19:35). No livro de Apocalipse ele afirma que o que escrevia é a Palavra de Deus (Apocalipse 1:1, 2, 11; 22:18-19).
3.4. Alguns escritores do Novo Testamento referem-se a outros como Escritura:
a) Em 1 Timóteo 5:18, Paulo escreve: “Pois a Escritura declara: Não amordaceis o boi quando pisa o grão e ainda: o trabalhador é digno de seu salário”. A primeira citação vem de Deuteronômio 25:4, e a segunda de Lucas 10:7. A conclusão lógica é que Paulo considera tanto Deuteronômio quanto Lucas como Escritura.
b) O apóstolo Pedro em 2 Pedro 3:14-18, no final de sua segunda carta refere-se às Epístolas de Paulo como Escrituras, prevenindo a Igreja contra os falsos mestres que deturpam o ensino das Escrituras.[10]
CONCLUSÃO
O conteúdo ímpar das Escrituras atesta a sua autoridade divina.
Quem poderia conceber a idéia de que a eternidade nasceria?
Que aquele que troveja no céu choraria numa manjedoura?
Que aquele que governa as estrelas nasceria de uma virgem?
Que o príncipe da vida morreria?
Que o Senhor da glória seria envergonhado?
Que o pecado seria punido em sua totalidade, e ainda totalmente perdoado?
Quem poderia conceber a doutrina da ressurreição, que o mesmo corpo que é partido em milhares de pedaços, ressuscitaria o mesmo corpo individual?
Quem poderia conceber toda esta sabedoria, se Deus não houvesse revelado a nós nas Escrituras?
Notas:
[1] Thomas Watson. The Body of Divinity, pág. 21.
[2] Walter Kaiser. Toward Rediscovering The Old Testament, Pág. 39, 40.
[3] Martyn Lloyd Jones. Autoridade, Núcleo. Centro de Publicações Cristãs. Apartado 1. Queluz.
[4] John Wenham. Christ’s View of Scripture in Inerrancy (Norman Geisler), Zondervan Publishing House. Grand Rapids. MI. 1980, pág. 6
[5] Idem, pág. 10
[6] Edwin A. Blum. The Apostle’s View of Scripure in Inerrancy, pág. 41
[7] Idem. Pág. 42
[8] Idem. Pág. 43
[9] Idem. Pág. 51
[10] Idem. Pág. 52
Mas este texto não afirma que a autoridade das Escrituras procede da Igreja. Quando um decreto é colocado numa coluna, a coluna serve para sustentar e proclamar o decreto, mas a autoridade do decreto procede do rei que o assina e não da coluna. A Igreja como coluna sustenta e proclama as verdades das Escrituras. A sua autoridade, porém procede de Deus.[1]
1. AS REIVINDICAÇÕES DO ANTIGO TESTAMENTO DE SUA PRÓPRIA AUTORIDADE
A primeira reivindicação da autoridade das Escrituras está em Êxodo 17:14, quando Moisés foi ordenado por Deus a escrever sobre a vitória contra os Amalequitas, num livro como memorial e foi a instruído a repeti-lo a Josué. Deus ordenou a provisão para preservar a primeira porção do cânon das Escrituras, dentro da Arca da Aliança no Santo dos Santos (Deuteronômio 31:24-26); e a feitura de uma cópia a ser utilizada pelo rei (Deuteronômio 17:18-19).
Após a morte de Moisés, Deus ordenou a Josué a não cessar de falar do livro da lei meditando nele dia e noite para obedecer aos seus ensinos (Josué 1:8). Quando Samuel declarou o direito do reino, ele escreveu-o num livro e o dedicou perante o Senhor (1 Samuel 10:25).
Escritores posteriores referiram-se aos seus predecessores como livros sagrados:
a) Daniel referindo-se a Jeremias (Daniel 9:2), afirmou que a profecia de Jeremias era Palavra do Senhor (Jeremias 25:11).
b) Os profetas Isaías e Jeremias mostraram cuidado em escreve as profecias em seus respectivos ministérios (Isaías 8:16 e Jeremias 36).
c) Zacarias no ano 520 a.C. referiu-se aos profetas anteriores como escritos que tinham status autoritativo em sua visão (Zacarias 1:4-6).[2]
d) O uso das expressões “disse o Senhor”, “falou o Senhor”, “veio a mim a palavra do Senhor”, 3.808 vezes no Antigo Testamento ratificam a autoridade divina das Escrituras.[3]
2. AS REIVINDICAÇÕES DO NOVO TESTAMENTO SOBRE A AUTORIDADE DO ANTIGO TESTAMENTO
Podemos avaliar a autoridade do Antigo Testamento através da visão de Jesus Cristo e da visão dos apóstolos.
2.1. JESUS VIA A ESCRITURA DO ANTIGO TESTAMENTO COMO UM LIVRO DIVINO.
a) Jesus via o Antigo Testamento como um registro fiel dos fatos históricos. Ele fez referências a Abel, Noé, Abraão, à instituição da circuncisão como fatos históricos (Lc. 11:51; Mt. 24:37-39; Jo. 8:56; Jo. 7:22) etc.[4]
b) Jesus usou histórias que muitos críticos consideram inaceitáveis como base de seu ensino, como por exemplo: o dilúvio de Noé (Mt. 24:37-39), Sodoma e Gomorra (Mt. 10:15; 11: 23, 24) e a história de Jonas (Mt. 12:39-41).
c) Jesus usou o A.T. como competente tribunal de apelação em suas controvérsias com os escribas e fariseus (Mt. 19:3-12), com os saduceus (Mt. 22:23-33).[5]
d) Jesus ensinou que nada passaria da lei, até que tudo se cumprisse (Mt. 5:17-20) e que a Escritura não pode falhar (João 10:35).
e) Jesus usou as Escrituras para refutar cada uma das tentações de Satanás. Tanto Jesus como Satanás aceitaram as afirmativas bíblicas como argumentos contra os quais não havia contestação.
2.2. OS APÓSTOLOS VIAM AS ESCRITURAS DO ANTIGO TESTAMENTO COMO AUTORITATIVOS
a) Os usos do Antigo Testamento no Novo Testamento atestam esta autoridade. São cerca de 239 citações formais, 1600 citações sem fórmulas introdutórias e muitas alusões ao Antigo Testamento. O apóstolo Paulo faz 93 citações do Antigo Testamento em suas 13 epístolas sendo 26 somente nos capítulos 9, 10 e 11 de Romanos. O livro de Apocalipse é um belo exemplo de Teologia do Antigo Testamento onde há 278 citações em seus 404 versos sem fórmula introdutória.[6]
b) O uso das fórmulas introdutórias pelos escritores do Novo Testamento demonstra que embora reconhecessem autores humanos das Escrituras, eles viam as Escrituras com autoridade divina. Jesus atribuiu ao Criador a autoria dos livros de Moisés (Mt. 19:3-8). Paulo usou expressões: “como diz Oséias”, “dele Isaías clama”, “como Isaías já disse”, “já Moisés dissera”, e “Isaías mais se atreve e diz” (Rm. 9:25, 27, 29; 10:19, 20). Para os escritores do Novo Testamento quando a Escritura fala, é Deus quem fala: “como está escrito”, “pois ele diz a Moisés”, “a Escritura diz a Faraó” (Atos 13:34, Rm. 9:13, 15, 17).[7]
c) A expressão “oráculos de Deus”, embora apareça apenas quatro vezes no Novo Testamento, para descrever o Antigo Testamento (Atos 7:38; Rm. 3:2; Hb. 5:12 e 1 Pd. 4:11); no texto de Rm. 3:2 refere-se à totalidade do Antigo Testamento, afirmando que todo o Antigo Testamento é a Palavra de Deus.[8]
d) As passagens de 2 Timóteo 3:16 e 2 Pedro 1:19-21, consideradas como clássicas no estudo da doutrina da Inspiração das Escrituras, atestam a autoridade da totalidade das Escrituras do Antigo Testamento.
3. AS REIVINDICAÇÕES DO NOVO TESTAMENTO SOBRE A SUA PRÓPRIA AUTORIDADE
escritores do Novo Testamento viam sua autoridade como procedente de Deus.
3.1. Paulo intitula-se apóstolo, arauto, testemunha e embaixador (Romanos 1:1, 5; Gálatas 1:8, 9; 1 Tessalonicenses 2:13; 1 Timóteo 2:7). Ele declarou que as cartas que escreveu eram para ser lidas na Igreja e obedecidas (Colossenses 4:16; 2 Tessalonicenses 3:14). Esta leitura pública seguia a prática da sinagoga, em que as Escrituras do Antigo Testamento foram lidas (Lucas 4:16, 17; Atos 13:15). A nova palavra profética é agora também para ser lida e obedecida (Apocalipse 1:3). Paulo tinha plena convicção de que seus escritos eram autoritativos. (1 Coríntios 2:13 e 14:37).[9]
3.2. Outros escritores do Novo Testamento deram testemunho semelhante. Lucas no prólogo de seu Evangelho (1:1-4) menciona seu cuidado em escrever de modo que a crença do leitor seja edificada sobre uma irrefutável base histórica.
3.3. João afirma que as coisas que ele escreveu aconteceram e foram de fato feitos na presença de testemunhas (João 20:30) e que seu próprio testemunho ocular sobre Jesus é verdadeiro (João 19:35). No livro de Apocalipse ele afirma que o que escrevia é a Palavra de Deus (Apocalipse 1:1, 2, 11; 22:18-19).
3.4. Alguns escritores do Novo Testamento referem-se a outros como Escritura:
a) Em 1 Timóteo 5:18, Paulo escreve: “Pois a Escritura declara: Não amordaceis o boi quando pisa o grão e ainda: o trabalhador é digno de seu salário”. A primeira citação vem de Deuteronômio 25:4, e a segunda de Lucas 10:7. A conclusão lógica é que Paulo considera tanto Deuteronômio quanto Lucas como Escritura.
b) O apóstolo Pedro em 2 Pedro 3:14-18, no final de sua segunda carta refere-se às Epístolas de Paulo como Escrituras, prevenindo a Igreja contra os falsos mestres que deturpam o ensino das Escrituras.[10]
CONCLUSÃO
O conteúdo ímpar das Escrituras atesta a sua autoridade divina.
Quem poderia conceber a idéia de que a eternidade nasceria?
Que aquele que troveja no céu choraria numa manjedoura?
Que aquele que governa as estrelas nasceria de uma virgem?
Que o príncipe da vida morreria?
Que o Senhor da glória seria envergonhado?
Que o pecado seria punido em sua totalidade, e ainda totalmente perdoado?
Quem poderia conceber a doutrina da ressurreição, que o mesmo corpo que é partido em milhares de pedaços, ressuscitaria o mesmo corpo individual?
Quem poderia conceber toda esta sabedoria, se Deus não houvesse revelado a nós nas Escrituras?
Notas:
[1] Thomas Watson. The Body of Divinity, pág. 21.
[2] Walter Kaiser. Toward Rediscovering The Old Testament, Pág. 39, 40.
[3] Martyn Lloyd Jones. Autoridade, Núcleo. Centro de Publicações Cristãs. Apartado 1. Queluz.
[4] John Wenham. Christ’s View of Scripture in Inerrancy (Norman Geisler), Zondervan Publishing House. Grand Rapids. MI. 1980, pág. 6
[5] Idem, pág. 10
[6] Edwin A. Blum. The Apostle’s View of Scripure in Inerrancy, pág. 41
[7] Idem. Pág. 42
[8] Idem. Pág. 43
[9] Idem. Pág. 51
[10] Idem. Pág. 52
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