Parábola dos Meninos na Praça
A Parábola dos Meninos na Praça, também conhecida como “Meninos Brincando na Praça”, foi contada por Jesus e está registrada no Evangelho de Mateus 11:16-19 e no Evangelho de Lucas 7:31-35. Abaixo, vejamos o texto descrito em Mateus:
Mas, a quem assemelharei esta geração? É semelhante aos meninos que se assentam nas praças, e clamam aos seus companheiros,
E dizem: Tocamo-vos flauta, e não dançastes; cantamo-vos lamentações, e não chorastes.
Porquanto veio João, não comendo nem bebendo, e dizem: Tem demônio.
Veio o Filho do homem, comendo e bebendo, e dizem: Eis aí um homem comilão e beberrão, amigo dos publicanos e pecadores. Mas a sabedoria é justificada por seus filhos.
(Mateus 11:16-19)
Contexto da Parábola dos Meninos na Praça:
O Profeta Malaquias foi o último profeta a falar em nome de Deus no Antigo Testamento. Após ele, houve um período de silêncio de aproximadamente 400 anos, a qual ninguém foi autorizado por Deus a de levantar entre o povo de Israel e dizer: “Assim diz o Senhor”.
Após esse período, eis que surge João Batista, filho do Sacerdote Zacarias e Isabel. João Batista, já adulto, tinha um modo de vida bastante peculiar. Ele se alimentava de gafanhotos e mel, além de se vestir apenas com pele de animal e uma corda amarrada na cintura. João Batista teve seu ministério todo fundamentado no objetivo de anunciar o arrependimento, muitas vezes com palavras duríssimas (Mt 3), mas que apontavam para o Messias que brevemente se manifestaria. Por seu modo de certa forma recluso de viver, João Batista era considerado por muitos como antissocial (Mt 11:18). Por fim, os líderes religiosos dos judeus acabaram rejeitando João Batista e até mesmo o acusando de estar endemoninhado (Mt 11:18).
A princípio o povo deu ouvido a pregação de João Batista. Voltaram-se para Deus e até mesmo submeteram-se ao batismo. Porém, muitos dentre o povo, seguindo o exemplo de seus líderes religiosos que em grande maioria rejeitaram o propósito salvador de Deus, também passaram a rejeitar o que previamente haviam aceitado.
Por outro lado, Jesus tinha um comportamento muito diferente do adotado por João Batista. Ele participava de celebrações, de casamentos, festas e de jantares. Diante disso, os líderes judeus também rejeitaram a Jesus e se mostraram insatisfeito com seu comportamento “mais social”, chegando até mesmo o acusar de ser um glutão e beberrão (Mt 11:19). Esse tipo de acusação estava longe de ser inofensiva, pois implicava na descrição de um filho rebelde, que, de acordo com a Lei, deveria ser apedrejado até à morte (Dt 21:20,21).
Todo esse contexto prepara de forma clara as primeiras palavras de Jesus nessa parábola, ao dizer: “Mas, a quem assemelharei essa geração?”.
Explicação da Parábola dos Meninos na Praça:
Jesus contou uma parábola que descreve um grupo de crianças brincando numa praça. Essa era uma cena extraída diretamente do cotidiano. O relato consiste na ação de alguns meninos e meninas que queriam brincar de casamento. Eles precisavam de alguém para fazer o papel de noiva, outro para ser o noivo, e mais outro para tocar flauta para que o restante dançasse. Entretanto, o restante das crianças se recusou a dançar, pois não estavam interessados em brincar de casamento.
Mudando de brincadeira, ao invés de tocarem flauta, as crianças começaram a entoar cantos de lamentos, na representação de um funeral. Agora eles estavam propondo que brincassem de enterro. Um deveria se fingir de morto, outros deveriam entoar cantos de lamentações enquanto o restante deveria chorar, como as carpideiras profissionais da época. Tal como na brincadeira do casamento, o resto das crianças se recusaram a brincar de funeral. Então, as crianças que haviam proposto as brincadeiras disseram aos outros: “Nós tocamos flauta e vocês não dançaram; cantamos lamentações e vocês não choraram”.
Em outras palavras eles estavam dizendo: “A brincadeira do casamento era alegre de mais para vocês; a brincadeira do funeral era triste demais. Vocês nunca estão satisfeitos com nada!”. Então começa uma pequena discussão entre eles. As crianças ficam irritadas e mostram a infantilidade pertinente à idade que possuem, sendo volúveis e inconstantes. Isso é algo que provavelmente já aconteceu com todos nós na infância. Ficávamos ansiosos para brincar de uma determinada coisa, mas, com menos de cinco minutos de brincadeira, mudávamos de ideia e não queríamos mais brincar. Se estivéssemos em um grupo, esse era o momento propício para uma discussão. O que antes nos entusiasmava tanto, tão logo havíamos perdido o entusiasmo. É exatamente sobre isso que Jesus fala.
Com essa parábola Jesus coloca ênfase no modo de vida infantil que os críticos viviam. Eles agiam de maneira inconsistente, irresponsáveis e de forma contraditória, de modo que nunca estão satisfeitos. Primeiro, se entusiasmaram com João, mas logo se incomodaram com seu jeito duro, pouco social e sua mensagem severa. Depois, se voltam contra o próprio Jesus, e o acham sociável demais.
Quanto à interpretação dessa parábola, os comentaristas basicamente defendem dois modos diferentes de interpretação. A primeira interpretação defende que os meninos que sugeriram as brincadeiras de casamento e funeral representam Jesus e João Batista, respectivamente. Já as crianças que se recusaram a brincar são os judeus.
A segunda interpretação é exatamente o oposto da primeira. Os meninos que sugeriram as brincadeiras são os judeus que queriam que João Batista fosse alegre e que Jesus se lamentasse. Quando viram que nenhum dos dois viveu conforme a expectativa que tinham, então começaram a reclamar.
Entre as duas interpretações, a segunda parece ser a mais coerente considerando a construção do texto, pois estabelece uma ligação entre “os homens da presente geração” com o grupo de crianças que fazia recriminações, ou seja, os judeus estavam descontentes com João Batista e com Jesus, tal como as crianças estavam insatisfeitas com os seus companheiros, além de organizar em ordem cronológica as queixas aplicadas a João Batista e Jesus, isto é, João era recluso em seu estilo de vida e foi acusado de estar possuído por demônios, enquanto Jesus, se mostrando muito mais participativo na socialização, foi acusado de ser um glutão e beberrão, digno de ser punido pela Lei.
Entrando, particularmente não sou favorável a nenhuma dessas interpretações que dividem as crianças em dois grupos. Penso que ao fazermos isso, estamos tirando o foco principal da mensagem de Jesus que era simplesmente apontar para as características das crianças quando estão brincando. Jesus não estava querendo identificar cada grupo com um elemento da parábola, mas demonstrar que, tal como as crianças agem em suas brincadeiras diárias, assim muitos estavam se comportando, agindo de maneira contraditória, infantil e volátil.
Jesus finaliza a parábola dizendo: “Mas a sabedoria é justificada por suas obras”. No Evangelho de Lucas a frase é: “Mas a sabedoria é justificada por todos os seus filhos”. Embora exista essa diferença na construção da frase, ela não altera o sentido principal da mensagem transmitida. A sabedoria citada refere-se à sabedoria de Deus, ou seja, a expressão usada por Mateus enfatiza que as obras realizadas por Jesus são provas da sabedoria de Deus, enquanto o Evangelho de Lucas enfatiza a condição de que os filhos de Deus são testemunhas vivas de sua sabedoria, isto é, João Batista e Jesus tinham cada um uma missão distinta a cumprir, e muitas pessoas viram neles a sabedoria de Deus revelada, de maneira que os filhos da sabedoria são todos aqueles que foram sábios o suficiente para receber sinceramente a mensagem anunciada por João Batista e, depois, pelo próprio Cristo.
Lição da Parábola dos Meninos na Praça que podemos aplicar em nossas vidas:
Embora essa parábola tenha um significado bem específico dentro de seu contexto, podemos tirar uma aplicação muito importante que serve para todos nós:
- Existe uma diferença entre inocência e infantilidade: Jesus nos ensinou uma mensagem muito clara em seu ministério de que precisamos “ser como crianças”, dando ênfase na questão da inocência. Porém há uma diferença muito grande entre o “ser como criança” e o “ser infantil”. Enquanto a primeira condição é elogiada pelo mestre, a segunda é condenada explicitamente. Sobre esse aspecto, podemos refletir em nossas próprias vidas qual o tipo de conduta que estamos tendo. Será que estamos agindo de maneira infantil, imatura e volátil com as questões do reino de Deus?
Nenhum comentário:
Postar um comentário